segunda-feira, 7 de novembro de 2011


Quando nos encontramos pela ultima vez, semana passada, eu o prometi de ir vê-lo em seu espetáculo (justo o que eu vinha evitando há tempos, como estavamos distante, eu conseguia sempre negar qualquer possibilidade de ir, agora no entanto, não posso negar nada, pelo contrário, eu quero afirmações. Preciso delas).
Cheguei no local, e fiquei vendo outras coisas, haviam várias outras apresentações, amigos queridos devorando o palco, e na platéia, sentados. Mas o meu pensamento já estava virado para o que estava por trás do palco, ou seria por quem estava por trás? rsrs.
Não demorou muito para eu pedir licença a minha mulher e as pessoas em volta, e me direcionei ao camarim lá atrás. Ao ir chegando fui encontrando outros, e outros amigos, como é bom vê as pessoas da dança com as quais eu cresci, me sinto em casa.
Abri enfim a porta do camarim, e lá no canto estava ele, se maquiando ( a única razão de eu está ali, nem uma outra, nem mais ninguém). Ao abrir a porta, os demais bailarinos me olharam como que dizendo: nossa ele veio! E todos olharam para ele sorrindo, como se dissessem: olha quem está aqui! Fiquei fazendo charme atrás da porta, e ele alí, querendo vê, maquiando-se (exatamente da mesma forma que eu o ensinei: sem excessos!) Estava com a pele translúcida e um olhar brilhante. Por alguns segundos no pequeno percurso que fiz até chegar a ele, parece que o tempo suspendeu. Eu parecia o namorado que vai visitar o outro antes de entrar em cena. Nos abraçamos de forma terna, e ficamos alí em meio a todos aqueles bailarinos, falando baixinho, abraçados.
Ele me perguntou se todos estavam lá, continua o mesmo vaidoso de sempre.
E eu o respondi que sim.
Então ele retrucou, eu estou começando a ficar nervoso.
E eu o respondí: você sabe fazer a coisa, e eu estou aqui!

De alguma forma aquilo o confortou. Ele iria dançar um balé que dancei ha exatamente 10 anos.
A única diferença é que agora ele seria a estrela, e eu não passei do corpo de baile na época.
E isso jamais poderia ser diferente, ele tem um corpo de deus, um verdadeiro Apolo, enquanto eu tenho apenas o meu corpo no lugar e a minha técnica conseguidos as custas de muito esforço, de muita disciplina.
Mas não reclamo, consegui também dançar tudo que um bailarino sempre sonhou: os melhores festivais, nos melhores teatros, nas noites mais importantes (eu sempre quis o melhor, nunca nada que não fosse o melhor).
Saí então do camarim lhe desejando uma boa apresentação. E o coração foi ficando cada vez menor...
Assim que ele entrou em cena, dava pra sentir um suspiro coletivo vindo de toda a platéia, e não era por menos, eu me apaixonei por um príncipe. E como ele estava lindo, minha mulher virou para mim e falou: o homem é bonito mesmo!!! Não reagi, nem respondi de forma alguma, eu estava inundado por dentro, me veio todos os amigos que estavam em minha volta na cabeça, fiquei imaginando o quanto eles deveriam estar com dó de mim naquele momento. Se pudesse saia dalí correndo, mas tudo que tive de fazer foi me conter.
Ao final, todos urravam, e aplaudiam de pé, e eu apenas alí, o adorando, sentado como um mero... Um amigo me abraçou e me perguntou se eu estava bem, o respondi que não, e ele me falou: imagino, não deve ser fácil, o homem é bonito demais!
Aiaiai, como se não bastasse saber disso, tenho que ouvir a todo momento. Mas a pior coisa é ter que engolir sempre com um sorriso no rosto, é não poder falar nada.
Segui para a saída do local com a minha mulher, e ela sem ao menos pedir para ir lá vê-lo, parece que nunca foram um do outro, parecendo ser indiferente (como isso me machuca). Falei então vou lá no camarim dar um beijo nele, e ela enfim decidiu vir junto.
A entrada estava sendo fechada para o público, mas eu não dei a mínima, olhei para o segurança como quem diz: saia da minha frente! E ele de imediato leu o meu olhar, deixei todo mundo na porta esperando (eu não poderia e nem gosto de esperar, odeio ter que esperar).
Ele já estava saindo, nos abraçamos mais uma vez, e outra , e outra, conversamos, falei dos pés dele, disse que estavam horríveis, e ele riu, me dizendo que era o charme. Mas falei também: e quem é que precisa de pés bonitos com essa cara, e esse corpo, e essa forma de dançar??? Posamos para fotos juntos, os três. Engraçado ninguém consegue chegar perto quando estamos juntos, parece que forma-se uma bolha em nossa volta (a mulher dele olhava de longe, nem tomei conhecimento). Nos despedimos, e fomos embora.
Fiquei desolado, não sei porque, queria ir pra casa, mas ainda havia outro espetáuclo, e de um amigo que acabara de fazer na noite anterior. Então fui muito a contra gosto. Ainda bem que o espetáculo do meu mais novo colega de trabalho foi maravilhoso, aquilo me preencheu muito, saí de lá menos mal.
Cheguei em casa mudo, como se estivesse caindo em um buraco sem fim. E  assim eu acordei hoje, antes das seis da manhã. Fui para o quintal, reguei as plantas, e pensei, pensei, pensei: por que, por que, por que essa merda foi acontecer justo comigo?

Um amigo, o mesmo que me abraçou ao fim do espetaculo, dias antes me disse:
Fauller, ele é seu, e um dia ele não vai aguentar segurar a onda, não adianta casar... Ninguém consegue mentir pra si a vida inteira. Você não o ama? Respondi que sim, muito, que é um amor completamente diferente do meu amor por Wila, eu preciso dos dois.

E ele finalizou dizendo: então se você o ama, espere, quem ama sabe esperar.


PUTA QUE PARIU!!!!!!!




2 comentários:

  1. Vez por outra venho aqui te ler, e quase sempre que venho eu gosto muito, porque encontro verdades e sentimentos e sentimentos de verdade sem disfarce. Lindo!
    A espera é terrível, mas as vezes é uma boa companheira!
    Queria te dar um abraço agora!

    ResponderExcluir
  2. Thiago, obrigado lindo!
    Eu também queria muito te abraçar nesse momento.
    uem sabe um dia eu vença essa tal dona espera.

    ResponderExcluir