terça-feira, 29 de novembro de 2011

segunda-feira, 28 de novembro de 2011

Oi Futuro censura exposição de Nan Goldin


É, o que me parece é que o Brasil continua indo de mal a pior, se o assunto for arte, cultura e educação.
Um parêntese, quando o assunto é o que fazemos com tudo isso, e qual  importancia tais seguimentos ocupam na vida dos brasileiros.
Segue abaixo, o retrato da minha perplexidade nessa manhã de segunda feira.
Se até Nan Goldin foi censurada pela OI FUTURO, ou seria OI PASSADO?
Eles não sabiam quem era Nan Goldin quando aprovaram a exposição dela, santo Deus!!!

Pobre de mim, o que será de mim?


Cambada de curadores desinformados, de merda, e de quinta!
É isso aí, BRASIL MOSTRA A TUA CARA!





Nan Goldin autorretrato
Em carta aberta aos amigos, enviada por e-mail, e divulgada no Facebook, a curadoria Lígia Canongia lamenta terem sido” jogados fora” dois anos de trabalho para a montagem de uma exposição com obras da fotógrafa norte-americana Nan Goldin. O motivo? Censura. O Supergiba buscou informações sobre o ocorrido na página oficial da instituição, entrando em contato com a assessoria de imprensa da Instituição, e até o momento não obteve respostas.



Desde a publicação deste post, ontem, às 17hs, mais de quatro mil usuários da rede de relacionamentos Facebook o reproduziram em seus murais. A polêmica em torno do cancelamento da exposição de Nan Goldin pelo Oi Futuro está na primeira página do Segundo Caderno, no Globo de hoje.
Confira a íntegra da carta abaixo:
“Em reunião ontem, no Oi Futuro, fui comunicada pelo curador e pela direção do instituto que a exposição de Nan Goldin estava suspensa.
Em ato arbitrário, prepotente e desrespeitoso com a artista, os curadores, e sobretudo, com a obra de arte, a mostra foi CENSURADA.
A artista chegaria ao Rio dentro de 20 dias, e a exposição se inauguraria em 09 de janeiro, ou seja, faltando praticamente 1 mês.
A direção e a curadoria dessa casa simplesmente não sabiam quem era Nan Goldin e o conteudo de suas imagens, tomando conhecimento delas apenas no final de outubro, embora tenham selecionado a exposição em edital de um ano atras.
Um trabalho de quase dois anos foi jogado fora, sumariamente.
Atos como este so se inscreveram na historia durante o nazismo, o fascismo e as ditaduras.
A instituição teve apenas o desplante de me pedir que levasse a exposição para outro lugar.
Se vocês puderem e quiserem se manifestar a esse respeito, eu agradeceria, pois vou reencaminhar ao Oi Futuro a ressonância dessa arbitrariedade no meio artistico.

Um grande abraço,
Ligia Canongia”



Nan Goldin realizou sua primeira individual em Boston em 1973, apresentando um conjunto de imagens das comunidades gays e transexuais da cidade, introduzida no meio pelo amigo David Armstrong. Goldin graduou-se na School of the Museum of Fine Arts, Boston/Tufts University em 1977/1978, onde trabalhou na maioria com impressões através do processo de Cibachrome.
Goldin, residente em Nova York, realizada desde o final dos anos 70 um trabalho focado na documentação da subcultura gay nos Estados Unidos.


Fonte: http://www.supergiba.com/oi-futuro-censura-exposicao-de-nan-goldin/





domingo, 27 de novembro de 2011


Ontem ele veio!
Me escreveu antes perguntando se poderia passar a tarde de sábado conosco. Bobo, como se precisasse me perguntar sobre isso, como se a nossa casa também não fosse dele.
Chegou de moto na hora do almoço, parecia um cavaleiro montado em seu cavalo selvagem.
Tomei banho, me enxuguei na frente dele de próposito, enquanto ele me observava sentado no balanço do alpendre. O deixei depois em seu banho e fui comprar feijão verde para nós três almoçarmos. Antes disso ele me avisou que iria ficar só de cueca, como se eu tivesse algum problema com isso, risos, não resisti, falei que ele poderia ficar pelado se quisesse, ele riu.
Enquanto eu saia, minha mulher chegava, eu sabia que ela iria ficar passada em entrar em casa e vê-lo saindo do banho só de cueca. `
É, parece que ele ainda é o único "cara". Nós gostamos de fato da companhia dele, nós três conseguimos ri, e falar bobagem junto como não o fazemos com mais ninguém.
Durante a tarde Wila dormiu no quarto de hospedes, enquanto eu e ele ficamos no meu quarto, deitados na minha cama, a cama em que um dia ele se "perdeu" conosco.
Como dois amigos, cheios de silêncios, eu completamente nu, e ele de cueca, ali conversando, mostrando um ao outro coisas em nossos computadores, vendo as últimas fotos feitas, e filmes de sexo.
Boa parte do tempo, essa situação é um tormento para mim, mas ontem foi tão tranquilo, eu não queria falar nada para ele, não queria dize-lo que o amo, acho que a minha cota de amor foi toda gasta pelo meu sentimento de perda com a minha tia. De qualquer forma fiquei acariciando os seus cabelos, olhando ele nos olhos, e como isso faz bem ao ego de macho dele, saber que outro cara se derrete, e o deseja até o fim. Quando eu estou enfim perto do homem e da mulher que amo, fico complemente bobo, é a minha parte leonina falando mais alto que a taurina.
Deitei em seu peito, e fiz algumas fotos nossas, ele apenas deixa, adora ser fotografado, nasceu para os holofotes, assim como eu.
Conversamos também sobre trabalho, ele bateu o martelo, vai retomar as fotografias de sexo que haviamos começado tempos atrás para um trabalho. As fotos são sobre a nossa  intimidade, leia-se: sexo + afeto. Elas serão parte de um projeto multi-midia que eu estou começando a construir, nós faremos muitas fotos juntos, e ele reviu as imagens já feitas, e me falou muito seguro do que quer, que eu posso usar todas, me disse que não tem problema com nenhuma, algumas imagens são pesadas, mas ao mesmo tempo muito bonitas.

Que eu seja forte o suficiente para não enlouquecer, sei como são essas coisas, sei muito bem o clima que fica no ar.
Eu o falei que quero levar um banho de mijo, ele topou, risos.


Sigo assim,
sem saber como isso vai acabar,
onde isso vai dar.
Enquanto isso,
ele torna-se cada vez mais próximo,
me sinalizando permissões em silêncio.


sábado, 26 de novembro de 2011


Acabando a semana que começei de forma otimista, acordando cedo na segunda e indo para a academia, voltando para fazer os meus trabalhos. Eu me vesti de força para encarar a semana, por algum motivo achava que precisaria encarar a vida de outra forma, e por impulso começei há cinco dias atrás. Eu havia chorado muito no domingo ao telefone com a minha mãe. Falei a ela do quanto me cortava o coração ver a minha tia, padecendo com o câncer. Ela chorou junto comigo do outro lado da linha. Falei para ela que iria na segunda, ou na terça , visita-la de novo. Ultimamente eu ia lá com frenquência, e voltava sempre mal.
Na tarde de segunda, eu tinha uma reunião as 16h, e neste horário eu ainda estava em casa, liguei dizendo que chegaria atrasado, uma vontade grande de não ir, mas pensei: não vou resolver logo todos os assuntos que tenho para resolver. E pela manhã irei visitar a minha tia. Não deu tempo! Eu não tive tempo de vê-la viva uma última vez.
Nossa, se eu pudesse voltar ao tempo, eu sinto tanto não ter ido na segunda, por que justo naquele dia eu não escutei a minha intuição? Coisa que eu tanto prezo. 
Passei a semana nem sei como, todas as tardes ela me faz tanta falta.
Ela dizia todas as noites: Maria, eu não quero morrer! Eu não posso morrer. Eu quero passar o natal na minha casa com a minha familia. Quando eu a vi pela ultima vez, eu sabia que ela jamais voltaria na casa dela (ela estava na casa da minha avó para ser melhor cuidada. E Maria é uma prima, ela também é como uma mãe para mim, foi ela quem me criou, junto com a minha avó, e a minha tia, enquanto a minha mãe trabalhava fora. Eu só via a minha mãe a noite, e nos fins de semana. Tive várias mães, todas muito carinhosas e muito presentes).

"Cada vez mais a minha idéia de amor estar ligada a minha idéia de morte. As pessoas que eu amo estão morrendo, ou me matanto de alguma forma. Viver é se despedir constantemente, quanto mais vivemos mais nos despedimos".
É isso, não tenho mais a dizer. Não quero escrever um belo texto sobre a ida da minha tia, não quero ser poeta, não quero ser cool, não quero nada. 

O mundo ficou mais feio, mais duro, sem a doçura da Tia Fátima.


domingo, 20 de novembro de 2011

Eu vivo assim...

... Solto pelo mundo. Sou feito de liberdade!

Quando estou com você, eu não tenho medo de nada!

Em Berlim, cidade de grandes amigos.

Sade, José de Alencar, Nietzsche, Bataille, Oscar Wilde, Platão, Frida, Caetano Veloso, Clarice L, Portinari, Terry Richardson, Tambaba, Cocks Rings, Balls Stretchers, Manolo Blanik, tanta coisa... Vivo cercado por todos eles, me encorajando a ser como quero.

Amorebas de Sampa - Engraçado, todo mundo diz que São Paulo é a minha cara, mas eu não morro de amores por esta cidade, moro de amores pelos amigos que tenho lá.

Minha mãe! Ela é divertida, e ao mesmo tempo disciplinadora, e sempre foi muito protetora. Meu senso de organização vem todo dela, ela odeia coisas sujas, e fora do lugar.

Meu balanço, meu quintal. Aqui eu reponho as energias, cuido da terra e das plantas, me conecto, recebo os amigos. Tudo devidamente pelado, de corpo e de alma.

Em Paris, minha segunda cidade. O lugar que me ensinou muito sobre arte, sobre grandes escritores, grandes pintores, grandes artistas, e sobre mim. Lá eu consigo andar tranquilamente pelas ruas na madrugada sem ter medo. É maravilhoso flanar por Paris a pé quando as ruas estão quase vazias.

Minha amada Wila! Eu adoro quando ela quebra a barreira da timidez, e sobe na mesa, ela para qualquer lugar. E eu que sou muito mais desibinido, jamais consegueria fazer igual, fico apenas de tiete, embaixo, com a minha adoração.

Livro é igual a sapato, não dá pra emprestar, nunca volta igual, e as vezes nem volta.
Não empresto os meus nem pelo amor de Deus.

Nós

Quando eu era criança, eu sonhava em ter um lustre de cristal, e morar em apartamento, morei por seis anos em um em Fortaleza, e passei por mais cinco em Paris, jamais voltaria a ter este desejo. Mas quanto ao lustre, eu acabo de realizar o meu sonho de infância. As vezes chego em casa cansado, após um dia de ensaio e fico o observando, feito a criança que um dia sonhou.

Gosto muito da minha bunda, ela é robusta e coberta por generosos pelos. Não vejo problema algum em gostar da própria bunda, pra mim é como admitir que gosto dos meus olhos, ou do meu cabelo. Acho que nós somos educados a temer a nós mesmos. Temos medo do próprio corpo, uma bobagem. O corpo é belo como um todo. E não há mal nele, o mal está nas cabecinhas pequenas, com pouco estudo, pouca visão de mundo, e de si. Feita em um hotel em Santa Catarina esta foto não tem pretensão de ser artística.


Vendo o mar engolindo a minha cidade: Fortaleza.

Tenho desenvolvido um gosto por antiguidades, e coisas vintage em geral, na verdade sempre tive queda pelo velho. Meu gramofone, de 1912, ele foi adquirido há poucos meses na beira da praia em Maceió. Ele funciona dando corda na manivela ao lado.

Sou muito exigente com o meu trabalho, quando tenho apresentação, para mim ela começa de manhã quando acordo, passo todo dia centrando a minha energia para aquilo. Gosto de chegar no teatro quatro horas antes, poder habitar aquele lugar. Gosto de chegar e encontrar já tudo pronto, e se chego e as coisas não estão nos devidos lugares, ah, eu fico uma fera. Nesta foto eu esperava para o chão ser limpo, só deitei quando veio alguém. Limpar o chão com a bunda não tá no meu contrato.

Essa foto é uma graça, não sei quem ela é. Mas não pude deixar de pedir para fotografar com ela.

Gosto do Rio, e vou sempre lá. Gosto de ver os garotos e as garotas em Ipanema. Gosto da Farme, do posto 9. Aqui há poucas semanas com a minha cunhada querida.

Odeio ter que fazer massagem nos cabelos, mas se não o fizer, eles caem de tanta química, sempre mexi muito na cabeça, aliso, pinto, decoloro, cacheio de novo, raspo... deixo crescer mais uma vez.

Lendo um artigo que escrevi para a nossa circulação nacional, textinho de quatro páginas, que eu ainda não tive coragem de postar aqui. Mas vai sair, logo logo.

Deixei esta foto com um tom onírico, porque tudo parece mesmo ireal, estas flores, o visual, mas tudo era de verdade, era na rua em Santiago - Chile. Lá existem canteiros lindos nas ruas, e eu podia andar vestido assim sem ninguém mexer comigo. Talvez por isso a imagem não me pareça real .

A Paulicea Desvairada, a Semana de Arte Moderna, o Manifesto Antropofágico, o Manifesto Pau Brasil, Hélio, Lygia, Glauber, Zé Celso, Caetano e Gal, Tarcila. São minhas inspirações. São as coisas e pessoas que me dão orgulho de ser brasileiro.

Ando me preparando para muitas coisas; me preparando para os ganhos e perdas da vida. Cabelos de algodão.

sábado, 19 de novembro de 2011

"Só Garotos"


Depois de um longo tempo em uma de minhas prateleiras de livros e dvds, me venci pelo cansaço e estou devorando "Só Garotos", livro de memórias da performer, cantora e lenda Patti Smith.
O livro fala sobre a experiência de vida dela com o fotografo Robert Mapplethorp.
Vários amigos já haviam feito a ligação entre eles dois e eu e Wila.
Ganhei o livro de um amigo, depois outro me escreveu dizendo que havia o comprado para mim, e as comparações foram chegando e chegando, nestes ultimos dias eu já havia iniciado a minha leitura, quando recebí uma mensagem via facebbok, de uma amiga de outra cidade me falando que havia lido o livro, ela me disse que aquilo era eu, nós dois (Fauller e Wila).
Foi a gota d'água (risos).

Pois então, lendo o "diacho" do livro, me divido entre o fascinio por Robert e Patti, e um certo incomodo pelas semelhanças, é como se alguém tivesse escrito sobre mim sem a minha autorização.
Por vezes chego me sentir bastante perturbado, eu e Robert temos traços de personalidade bastante parecidos, mas não quero terminar como ele. E ele sequer era grande fã do mar.
Vejam, tenho encontrado formas de sobreviver a esta leitura.

Patti, começa o livro de forma bastante irritante, sempre querendo poetizar, e poetiza mal, fala como alguns amigos coreógrafos que tenho, eles tentam ser poeticos sem ser, tornam-se "só chatos".
Logo depois quando enfim ela começa a falar sobre Robert, a narrativa ganha incrível cor, cheiro e sabor. Robert foi realmente uma força da natureza sobre a terra.
Mas Patti acaba me conquistando por seu jeito mais simples de vê a vida, e mais livre que Robert, ela realmente guarda semelhanças com Wila.

"Só Garotos" é o bálsamo que eu precisava para sobreviver a este fim de semana.






Ontem a noite ele me escreveu um email, se desculpando, falando que não sabia da materia do jornal, nem sobre o que foi dito por seu irmão "idiota", se disse "puto da vida". Por fim, disse que vem para irmos ao cinema, assistir "A Pele que Habito" de Pedro Almodovar.

Enquanto isso o tempo mais precioso da minha vida passa, deixando em mim o cheiro dos sentimentos embaralhados, que se confundem, e me confundem.

Corro de um canto a outro da casa, como um cavalo novo com fogo nas patas, correndo em direção ao mar, algo em mim cheira à espírito adolescente.





sexta-feira, 18 de novembro de 2011

O tempo De-vir














Faz tempo que não escrevo sobre o De-vir. Muitas cosias mudaram desde que ele foi criado em 2002. Naquela época eu apenas queria trabalhar com corpos nus, partindo da posição de "souplesse en avant", foi essa imagem que deu origem a todo o resto do trabalho.

Nesta mesma época eu me deparei com o livro do pensador português José Gil, o livro "Monstros", e foi justo este livro que nos serviu de referência maior por muitos anos. Arisco a dizer até meados de 2007, quando apresentei o meu trabalho pela primeira vez fora do Brasil, em Berlim, na ocasião.

De lá pra cá muita coisa foi mudando, a estrutura do trabalho mudou, haviam ainda pequenas coisas muito acadêmicas, e muita música. Tirei estas estruturas acadêmicas, e boa parte da música, dali em diante a coisa era mais dura (sem trocadilhos). Eram apenas os corpos, silêncio, as respirações e os sons nos próprios corpos pontuando o silêncio.

Na Alemanha, eles adoraram, ingressos esgotados nos dias anteriores as apresentações. Mas não deixaram de ficar um tanto quanto incomodados, eles acharam que o balé era muito austero pra ser entendido como uma produção brasileira.

As pessoas sempre querendo encontrar um lugar para o meu trabalho, e geralmente um "lugar" que eu mesmo não tenho interesse, ou preocupação em pô-lo.

Mais tarde, precisamente ha pouco tempo em nossa turnê nacional, queriam nos fazer acreditar que o meu trabalho não se parecia em nada com o Ceará, pois não fala de seca, não tem roupa de chita, não tem cactos pelo palco (precisariamos dançar com cactos dentro dos cus para essa dança ser Cearense?).

E eu sempre retrucando parece com o Ceará sim! O que é que você sabe sobre o Ceará?

Quebremos nossas idéias estabelecidas do que seja o lugar do outro, não é porque prefiro música eletrônica, ou jazz, leia Nietzshe e assista Godard que eu não seja daqui. Nem porque alguém seja
do Sul do Brasil que este alguém vá ter um discurso mais articulado que o meu. E eu, e toda a minha equipe de trabalho constatamos isso agora ha pouco também, ao passarmos por várias cidades do Sul do Brasil.

Então, vale ter cuidado com o que é dito e pensado sobre o que venha a ser uma dança feita e pensada no Ceará, no Nordeste, no Brasil, ou em qualquer outro lugar. Vale lembrar Norte é do outro lado, aqui é Nordeste. Odeio quando me falam que adoram as praias do Norte, o Norte não tem praias. E também me ofende quando perguntam como é o Pernambuco. O Nordeste tem nove estados.

Pois bem, voltando ao De-vir, tudo isso aqui também é sobre o De-vir, é transitando que a coisa vai maturando, vai se misturando virando outra, virando do mundo. O De-vir não é mais só do Ceará!

Nosso corpos estão impregnados de cidades, e as cidades também levam consigo um pouco dos nossos corpos, em cada corpo que nos assistiu, em cada corpo que nos ouviu, cada corpo que dividiu conosco a experiência de uma oficina da Cia. Dita. Aqui corpo e cidade cada vez com mais sentido para nós.

Se eu tivesse que criar o De-vir hoje, eu pensaria que ele é um acerto de contas, minha forma de falar ao mundo como nós somos desprovidos de auto-reconhecimento. E aí encontra-se a força política do De-vir hoje, no reconhecimento atráves do outro. O não reconhecimento também é uma forma da coisa acontecer políticamente. Não me incomoddo quando alguém levanta da cadeira e vai embora.

Às vezes eu brinco com a ironia que me cabe, digo que o De-vir é a minha forma de transformar o meu cu em arte, coloco ele pro auto, arreganho, digo que é arte, e as pessoas concordam que é arte. Foi assim que o De-vir foi recebido até por alguns professores meus na época, e por coreógrafos mais experientes que eu, eles diziam pelos corredores da instituição que eu estudava dança, que o trabalho era uma moda de "cus e bucetas", queriam diminuir o meu trabalho, no fundo tinham medo da minha audácia. Se o De-vir foi longe, boa parte devo ao sentimento de ter que provar algo a esses merdas. Hoje eles festejam, dizem que o trabalho é ótimo, sem imaginar que as conversas chegavam até mim.

Os corpos que dançam este trabalho hoje, precisam entender antes de dança-lo que não se trata apenas de repetir uma variação coreográfica, não me interesso apenas pela forma, ela encontra-se alí, mas não como partida, ou chegada, a forma precisa ser habitada por textura e essencia. Um bailairno apenas bonito fisicamente nunca vai dançar o De-vir como ele precisa ser dançado.

Todos os dias cada um de nós tem como exercício trazer um pouco de si, da sua própria vida para a sala de aula, para o trabalho. É um exercício penoso, envolve generosidade. Envolve saber de si. E aí é que a coisa pega, como é que é saber de si. Doi um bocado. os bailarinos que trabalham comigo que o digam, eu quase sempre tenho a impressão que eles metem, sobretudo os mais novos, mas dou os meus descontos, saber de si aos 20 é para poucos.

Eu ainda quero ir no limite do esforço físico, não sabemos até onde vamos aguentar, temos 22, 33, 38 e 47 anos respectivamente. São corpos com formações totalmente diferentes, com formas de lidar consigo e com o que está em volta também de maneiras muito individuais. Então como alimentar a valorização da individualidade, sem cair na armadilha do individualismo? Como seguir sendo grupo, se o individuo é tão importante?

Para seguir dançando o De-vir, é preciso estar atento ao tempo das coisas; internas e externas. Seguir mastigando o tempo.
É preciso tornar-se o próprio tempo.


Fotos: Carolinne Santos


Sempre disse: eu tenho problemas com gente burra!
Burra pra mim, entenda-se, é uma pessoa que tem preguiça de pensar além do óbvio, uma pessoa que não quer sair do lugar, mesmo quando existe alguém do lado dizendo: vamos, te dou a mão!
Pois é, eu cai justo na cilada de amar um homem burro. E isso me mata dia à dia.
Pra variar a mulher que eu também amo (com todas a minhas forças) também tem preguiça de pensar (não vou ter a deselegancia de falar outra coisa).
Ontem eu fui dormir aos pedaços, e hoje não acordei diferente, mas vou terminar o meu dia diferente, ah, isso podem ter certeza!
Pois bem, por acaso, abro uma matéria online, e lá estava ele estampando uma página, em fotos de um velho trabalho meu. Eu quis morrer, gritar, bater , espeniar. A maldita matéria fala sobre o orgulho da familia dele por ele ser bailarino e não ter virado gay!
Minhas fotos, imagens que eu criei com o meu suado trabalho, agora servem para ilustrar matérias homofóbicas, veladamente homofóbicas, de um pasquim de quinta categoria.
Escrevi para o jornal imediatamente, acusei a matéria de ser rasa, e pouco esclarecedora (ela trata a coisa como opção sexual, e não orientação sexual, pode uma coisa dessas?).
Uma matéria tão fuleira, que não tem nem o nome do "jornalista" que a fez. Que tipo de "jornalista" será este?
Tenho as minhas dúvidas, mas sei que mesmo sendo fuleira, uma matéria como esta pode sim mudar todo o curso de pensamento de quem ainda sequer consegue pensar com as próprias pernas, rs.
Rio pra não chorar.
Escrevi pra ele logo em seguida.
Eu estou cansado, cansado, muito cansado! Eu dou murro em ponta de faca todos os dias. E eu estou relamente cansado de ser burro junto.
Eu não preciso mais dizer tanta coisa, acho uma pena a tendencia que as pessoas que eu amo têm para a decadência. Basta eu deixa-las pelo meio do caminho, quando canso, de fato, para elas perderem a forma, casarem com um escroto qualquer, ou com uma piranha de beira de praia, se encherem de filhos,  e acabarem as suas vidas. Isso me dá um desespero, mas não posso levar o mundo nas costas.
Eu preciso é casar com um arquiteto parisiense, focado, culto, etc. Só pode ser. Mas eu não tenho interesse por isso, se tivesse já o teria feito.

Eu não posso escolher quem amo. Como escolho quem tá perto de mim. E essa é grande tragédia da minha vida.


Agora, depois do email que enviei, ele vai me punir: vai sumir da minha vida por mais um ano, vai silenciar mais uma vez.
FODA-SE AGORA!
Tô cansado de querer agradar, de querer conquistar.
Melhor usar o que me resta de lucidez, e ir à acadêmia, depois vou ler um bom livro, ir à praia.



quarta-feira, 16 de novembro de 2011


Fátima.
Fátima era uma moça linda, tinha pernas firmes, usava shorts minusculos, e gostava de dançar a noite toda usando saltos agulhas 10.
Fátima não gostava de repetir roupas, e como costurava muito bem,todo fim de semana uma roupa nova, transformava retalhos em peças sofisticadas.
Fátima era prendada, costurava, fazia um pudim de jerimum (abóbora) que ninguém fazia igual.
O pudim de Fátima era quase tão doce quanto ela.
Fátima era linda! De parar o transito!
Fátima Freire de Freitas. É minha tia.
Hoje ela tem uma barriga imensa, como se estivesse grávida, ela estar em uma cama, não pode andar. Ela estar com cancer no útero.

E como isso me doi. Como é triste vê alguém que a gente ama doente, e não poder fazer nada por esse ser, a não ser dá-lo amor, e companhia.
Nada me serve de chão.
Ontem eu fui visita-la, e nossa, como eu voltei mal. Ela não sabe do que estar doente, pensa que irá fazer uma cirurgia no final do ano, ela faz tantos planos. E me fala. E isso me doi tanto. Eu a amo muito. Eu queria ter a mesma força que ela, mas eu não tenho. E eu fico pensando: meu Deus, só ela sabe o que tá passando, será que ela é tão forte assim? Só ela sabe como estar por dentro. Todos nós em volta estamos morrendo de alguma forma.
Vim pra casa, e não conseguia pensar em outra coisa, em mais ninguém, acordo no meio da noite e fico pensando nela.
Mas de uma coisa eu sei, não posso ficar longe dela nesse momento, ela precisa de mim mesmo que me doa tanto cada encontro com ela.

Quando eu era criança, tinha mais apego a ela do que a minha própria mãe. Tia Fátima fazia tudo que eu queria, me levava pra todo canto, cantava muiscas de ninar (eu adorava cantar com ela), e me levava ao centro pra tomar sorvete. Nós temos uma estória ótima: fomos ao centro, e lá como de costume, ela me levou a tal sorveteria, lembro como se fosse hoje (ficava na Liberato Barroso), chegando lá eu pedi um sorvete duplo, eu nunca queria uma bola só, e quando veio o meu sorvete, eu tirei uma colherzinha do bolso, eu havia levado de casa, e ela ficou morta de vergonha, rs.
Eu também passava muitos dias em sua casa logo que ela casou, ela ainda não tinha filhos, as vezes eu não queria mais voltar pra minha casa. Quando eu peguei catapora estava lá na casa dela, viemos pra Fortaleza de trem.

Fátima não conquistou muita coisa na vida, virou mulher casada, prendada, virou mãe. Ela sempre convecia a minha avó a comprar as coisas que eu queria, ela dizia: mamãe compre, depois a gente paga.

Fátima consquistou apenas o nosso amor. O meu amor.
E a nossa estória é linda.

Eu te amo Tia Fátima!

quinta-feira, 10 de novembro de 2011

Eiko Ishioka


O alucinante mundo da costume designer que mais me inspira!