quinta-feira, 29 de dezembro de 2011


Fazendo a mochilinha, indo reinar em Canoa Quebrada!
Paraíso no Ceará.
Feliz 2012 para todos!

terça-feira, 27 de dezembro de 2011

Sobrevivi ao natal!


Eu que andava com medo da noite de natal, enfim sobrevivi, pensei que seria realmente dolorosa.
Mas o calor, o afeto da minha mãe, do meu irmão, da minha mulher, da minha família...
Eu tive que me dividir entre três ceias:
Primeiro fui para a casa da minha mãe, logo depois do almoço. Foi tão importante estar com ela e com o meu irmão (depois que o meu pai morreu, nós ficamos muito apegados, mesmo que eu não os veja com frequência, sempre nos falamos por telefone). Antes da ceia, a minha mãe nos lembrou que não deveríamos ficar tristes pelas pessoas da nossa família que se foram este ano. Ela mais uma vez ali (uma fortaleza, não sei como consegue ser tão sensível e tão forte ao mesmo tempo). Eu engoli o meu choro, e comi.
Uma saudade da minha tia... do meu avô. Acho que de alguma forma eles não sairam dos nossos pensamentos nesta noite. Todos nós estavamos alí para nos superar, para nos apoiar, para não deixar o outro se abater.
Logo depois fui até a casa da minha avó (ela também já se foi, mas a casa continua, para todos nós, sendo dela). Lá estavam os meus primos, os meus tios, a minha mãe preta (Maria), todos alí, um silêncio no ar, mesmo com tantos risos, parecia que rir doia em todos nós. Eles colocaram um quadro da minha tia na parede (um lindo quadro, os olhos dela brilham e a pele mostra o viço da juventude que um dia lhe pertenceu).
Alí eu me dei conta, de como eles precisam de mim, e de como eu preciso deles. Eu sinto que quando estou lá, a casa fica mais alegre, todos falam alto e ao mesmo tempo, como se todos ainda estivessem lá... Ai meu Deus!


Já era um pouquinho tarde quando eu fui embora, eu precisava ir, ainda tinha que ceiar com a minha mulher e sua família. Ao chegar lá, outro clima, as coisas mais tranquilas, pude enfim beber um pouco, comer e vir pra minha casa. Na minha cama uma única certeza: eu sobrevivi a esta terrível noite! A noite de natal sem várias pessoas que amo. E também sem ELE..
Mais uma noite de natal esperando, mais uma noite de natal sem. Desejando ter... até quando?

A vida corre dentro de mim, e eu gostaria poder fazê-la andar mais devagar.
O tempo é tão ruidoso, e eu sou tão jovem, mas sei que não serei assim por muito tempo, o mundo aos poucos vai deixando de ser meu.


Eu e Wila em nossa casa dias antes do natal.

Meu recanto

Lali e eu conversando sobre nossas vidas.

Com o meu maninho João, e nosso saudoso vô, natal de 2010

Moi et la mer!


sábado, 24 de dezembro de 2011

A Nudez como Proposição Estética e Política


Não ao nu artístico;
Não ao nu singelo;
Não ao nu com mensagem;
Não ao nu sagrado, impalpável, e inalcançável.
Nu é nu
Uma sentença?
Talvez, mas defender a nudez apenas para ser apreciada como objeto de arte, parece sentença ainda maior.
Constantemente nos fazem elogios feitos com a maior boa vontade a respeito do meu trabalho, entre tais, um me faz tremer na base, justo quando escuto: amei o seu trabalho, a nudez foi trabalhada de forma tão artística... Há outro exemplo que considero ainda mais grave: achei lindo o seu espetáculo, a gente nem percebe a nudez.
Primeiro; não concordo com a possibilidade de usar a arte como pretexto para lidar com uma questão que é nata do ser humano como a nudez, eu não trabalho a nudez, eu vivo a nudez, eu, nós, somos nus. Que tal olharmos para si e percebermos essa condição? A nudez é uma condição do homem, como estar vestido.
Segundo; é no mínimo delicado ouvir de alguém que assistiu a um trabalho de quarenta minutos com quatro pessoas nuas, que ele não tenha percebido a nudez. Será que não teria algo de errado aí¿ Concluo, relacionar nudez e arte é um passo imediato, talvez uma forma de fuga, como não conseguimos lidar com nós mesmos, precisamos da arte como uma possibilidade de aceitação. Aí talvez fique claro que só conseguimos olhar a nudez como algo “digerível” através da arte.
Buscamos outra forma de reaproximação daquilo que nos é dado quando nascemos, e que é retirado logo em seguida: o direito de permanecer nus. Então a arte, provavelmente a manifestação mais forte no homem além da cultura, quando se fala em organização e manifestação do pensamento na sociedade, fica mesmo com o peso de captar tudo que é brutalmente tolhido.
Durante anos a nudez no espetáculo De-vir não foi o assunto mais importante em questão, mas com o passar do tempo, com todos os fedbacks, com a diversidade de reações das platéias, das cidades, dos países por onde passamos, a nudez tornou-se um ponto de grande relevância dentro do trabalho da Dita, um assunto que não deve ser ignorado, ou muito menos ter sua importância diminuída.
Dentro da companhia passamos a lidar com ela de uma forma amplificada, não a considerando somente nos momentos de ensaios. Existe uma necessidade ética com a proximidade do assunto em questão, e este assunto pode ser qualquer outro: as nossas relações com a nossa cidade, e com as cidades, as relações pessoais e de trabalho com o outro, a relação consigo mesmo, e relações políticas. Tudo é político, viver é político, concluímos.
Em um debate em Vitória, logo após uma apresentação do espetáculo, uma garota se contorceu na platéia, ensaiou falar e desistiu, depois um rapaz chegou até nós e nos contou que ela só queria saber o ‘por que de não estarmos depilados’. A pergunta não foi feita diretamente a mim, mas tentei respondê-la comigo mesmo, uma vez que se dependesse de mim as casas de depilação já teriam falido. Então pensei: eu usaria as palavras de um amigo ator, também de Vitória, respondendo em tom debochado a mesma pergunta feita pelo ginecologista de sua mulher: diga a ele que eu não tenho tendências pedófilas, eu quero uma buceta de mulher adulta.
Logo se a pergunta tivesse sido feita na ocasião do debate, eu responderia: eu sou um homem adulto, e adultos têm pelos.
Mas talvez seja leviano permanecer neste lugar de pensamento em um discurso que não deve ser sobre uma questão de gosto pessoal. A razão de não nos depilarmos também é uma escolha estética, como seria se estivéssemos todos depilados. O fato de não retirar os pelos nos aproxima do aspecto mais natural do corpo, e também nos aproxima da nossa condição de animais (condição que negamos a cada momento). Qualquer instância, ação, secreção, ou analogia que nos aproxime aos animais irracionais é imediatamente negada pelo homem. E talvez por isso mesmo seja uma das leituras mais rápidas que o público faça conosco em cena, o público se reconhece em nós, e logo se reconhece animal também (ao falar que as formas criadas no espetáculo lembram bichos.
Partindo deste ponto, fico pensando que ao apresentarmos o “De-vir” e outras peças da Cia. Dita, lidamos com o corpo como um todo, sem qualificar nenhuma parte mais importante que a outra, por exemplo: aqui o cu é tão importante quanto a boca, cada um com a sua função, de forma que um não seja menos importante que o outro. Enquanto a boca é o órgão responsável pela ingestão dos alimentos, é um dos canais da sexualidade no corpo, e responsável pela verbalização do pensamento, o cu é o responsável pelo termino do processo de digestão, logo cu e boca são pontos extremos, e o cu é também um importante canal da sexualidade humana. Então não há outra saída a não ser lidar com o corpo sem grandes pudores, e o fato de mantermos os pelos reforça o olhar sobre os nossos paus, cus e bucetas (não os deixando em último plano). Ao depilar o sexo o tornamos visualmente mais suave, mais discreto, e o que pretendemos aqui é justo colocá-lo em evidência, como parte de um todo.  
Pensar estética, como se pensa política, aqui potencializar a própria exposição do corpo para potencializar o discurso político, e nada disso seria importante se não fosse o desejo maior: de ser de fato o que cada um é.
O pensador francês Jacques Ranciere, afirma que estética e política são dois campos que não se separam, para ele a política é essencialmente estética, está fundada sobre o mundo sensível, assim como a expressão artística. O filosofo desenvolve uma teoria em torno da “partilha do sensível”, conceito que descreve a formação da comunidade política com base no encontro discordante das percepções individuais.
A primeira coisa que solicito de um bailarino que chega à companhia para dançar, é que ele não minta para si, depois como pessoa que conduz a proposta de um trabalho, eu jogo uma serie de possibilidades para que ele se sinta mexido e provocado; eu provoco para ser provocado, e daí em diante esta pessoa passa a trazer material de sua vida para a sala de aula, para dentro do trabalho: a forma como ele vê o mundo, como faz para deslocar o seu olhar diante de algo que normalmente não é visto com clareza pelos outros. Voltando ao Ranciere, eis aqui um pouco da percepção do “sensível”.
O corpo não seria uma questão tão importante no meu trabalho se não fosse em minha vida, costumo dizer que é um acerto de contas com a minha mãe, ela não me deixava dançar quando criança nas festinhas de aniversário, temia que eu pudesse me soltar demais, dá pinta, me vinguei dançando pelado, me expondo ao máximo, e pondo a minha nudez em questão.  É claro que isso é apenas uma brincadeira, trago em meu corpo questões mais pertinentes do que um simples acerto de contas com a minha mãe.  E a razão para defender o nu apenas como nu, já é uma velha questão.
No começo da década eu me sentia absolutamente bombardeado por muitos espetáculos que lidavam com a questão da nudez em Fortaleza, espetáculos que passavam pela Bienal de Dança do Ceará, espetáculos de teatro, e vários trabalhos locais. A maioria me despertava certa resistência, lidando com a nudez de forma bastante superficial, sempre colocando o corpo entre uma meia luz, no estilo ‘mostra mas não muito’, ou usando o mesmo corpo como chamariz de bilheteria. Mesmo muito jovem, eu recebia aquilo como um desserviço a sociedade.
Pensem comigo, as pessoas já recebem uma educação completamente equivocada, castradora, e vão se distanciando da própria matéria com o passar dos anos em suas vidas, e ainda têm que apreciar espetáculos que lidam com uma questão que é um dos grandes tabus da sociedade, de forma que não é real. Foi através desses incômodos que eu me senti estimulado a pensar o corpo de forma diferente da qual fui educado a pensá-lo.
E o espetáculo De-vir foi um grande passo dentro desse processo de me repensar, e de me recolocar diante do outro. Depois do De-vir, veio o INC. (eu e Wilemara Barros, cada vez mais inflamados com os nossos discursos), e depois “O produto de 1ª”, e por fim o “L’après Midi d’un Fauller”, todos trabalhos em que a recorrência da nudez é diretamente relacionada a política. E isso só é possível com um grande esforço de perceber o movimento da vida, o movimento das coisas.
Não há escolhas estéticas nestes trabalhos que não se relacionem com o que somos e pensamos. Nós só dançamos o que pensamos!
Volto mais uma vez ao Ranciere: estética e política são formas de organizar o sensível: de dar a ver, de dar a entender, de construir a visibilidade e a inteligibilidade dos acontecimentos.
Ao falarmos de nudez, ao abrirmos espaço para uma discussão em torno dela, abrimos também espaço para refletirmos sobre uma sociedade que se conhece pouco; que desenvolveu a física, as bio-políticas, a bioarte, a bio, a bio, a bio, pensamos em todas as variações de bio, e nos considerando assunto a parte, quando não superiores a todo entendimento do que se tenha por bio.
Também escuto bons comentários sobre o meu trabalho, desses que a gente quer levar pra casa, guardar de forma especial, certa vez um conhecido após nos assistir me disse: Fauller, eu nunca havia imaginado o meu corpo dessa forma, e eu me reconheci totalmente através dos corpos de vocês, cheguei em casa, e tentei fazer uma posição do balé no espelho (meu amigo é um homem comum, estatura mediana, peso acima dos setenta e cinco quilos,  e hetero), logo isso me deixou com a sensação de que o nosso trabalho tem, de alguma forma, a função de aproximar as pessoas delas mesmas, pois talvez elas ainda não tenham tido a oportunidade de se permitir. E isto é uma grande questão para nós, que trabalhamos diretamente com o corpo, envolve além de política e estética, uma questão ética. Eduardo Kac (um grande performer e bio-artista brasileiro) chamaria de ética performativa: ela nasce junto com a própria concepção da obra.
Eu chamaria de “seja sem medo”. Se pudesse escolher um pilar que nos move dentro da sociedade, desde que acreditamos que a primeira maça foi mordida; alem do amor, do sexo, e do dinheiro, eu escolheria o medo. Somos todos movidos pelo medo, a potência do medo em nossas vidas é avassaladora. Somos do signo de medo com ascendente em medo, e lua em medo.
Portanto, a única forma de desenvolver o sensível é através do desnudamento da alma. Um corpo nu não revela necessariamente o desnudamento de nada, tão pouco do pensamento, e-ou do desejo.
É preciso criar formas de resistência e de existência.

O bailarino Lairton Freitas em ensaio de "De-vir".


A Cia. Dita em ensaio em sala de aula.


Este texto foi escrito originalmente para o "Pensamento Giratório", ação do Projeto Palco Giratório Nacional SESC. Ele foi ponto de partida para uma série de debates e discussões em nossa turnê nacional 2011.


sexta-feira, 23 de dezembro de 2011


Eu ouvi dizer que você se estabeleceu
Que você encontrou uma garota 
e está casado agora


 Feliz Natal!


 


terça-feira, 20 de dezembro de 2011

sábado, 17 de dezembro de 2011

Adeus Cesária!


Um adeus a uma rainha, a uma diva de verdade! Quantas vezes eu dei aula esse ano ao som da voz dela...
Quantas vezes eu e wila acordamos aos domingos, preguiçosos, ouvindo sua linda voz enquanto o almoço era feito... Saudade do Cabo Verde, terra que amo. Tua voz Cesária fica pra sempre!












Ontem terminou o meu ano de trabalho de 2011.
Foi o fim de algumas semanas de escravidão, eu estava muito sobrecarregado de trabalho, tanto físico quanto intelectual, alternava deliberadamente academia e sala de aula com o escritório da produtora da minha companhia.
Pois bem, o ano foi lindo, nunca viajei tanto, nunca conheci tanta gente maravilhosa, foi incrível conhecer o Brasil.
Que seja de César o que for de César!
E se Maomé não for a montanha, a montanha certamente irá a Maomé.
Agora é me preparar psicologicamente para este terrível período de natal, eu odeio este período! Fico frágil, carente, odeio essa obrigação de ficar feliz, e de parecer que amo todo mundo. Não amo mesmo! Os meus amores escolho eu.
Seguimos!
Agora é tomar tempo pra mim, pro meu quintal, pra minha família, pra minha mulher, pensar com leveza na vida (ela precisa de fé), me perder de frente pro mar. E continuar sonhando que o que eu tanto quero um dia vai chegar.

terça-feira, 13 de dezembro de 2011

A última dança do ano.




Amanhã farei minha ultima apresentação do ano. Dançarei "A Cadeirinha e Eu", e o meu único desejo continua ser de verdade, não mentir. Dançarei para algumas pessoas que amo, em pensamento, dentro de mim. A Cadeirinha e Eu é o forte desejo de tocar a "coisa" que insiste em cair dentro de mim.

Hoje fiquei pensando sobre a beleza das coisas, sobre o que as tornam realmente belas. Acho que esse ano que estar terminando tem sido um ano de grande crescimento espiritual para mim, eu tenho me conectado com outras coisas. 

Agora a pouco saí de uma reunião com a minha produtora; fechamos planilhas, cronogramas, levantamos orçamentos e planos de ações, ufa! E depois de tudo isso conversamos sobre o que de fato importa, conversamos sobre os afetos necessários para que possamos seguir vivendo, eu a falei muito do meu sentimento de perda e de amadurecimento com a morte da minha tia, há pouquíssimo tempo, ela era uma pessoa tão boa, tão humana que até depois de morta, me trás coisas boas. Falei também de um certo sentimento mais tranquilo que me toma em relação as duas pessoas que amo. Isso as aproximam de mim. 
E me deixa tão feliz! Tudo é uma questão de tempo, e de paciência. 

Saí da reunião com ela (minha produtora) quase chorando, ela é uma fofa, e é isso que me interessa: trabalhar, viver com quem me desperta afeto.

Amanhã dançarei a minha dança da alma, uma dança na qual não posso me esconder, é uma dança que revela muito, me dispo de alma ao som de Chopin.

Agora toca bem baixinho em minha casa, Adele, é, eu a tenho ouvido bastante, ando meio meloso, ando tão precisado de delicadeza, não me importa admitir! Quero me permitir a tudo! Quero passar por essa vida intensamente.

Hoje eu coloquei assim no meu status de facebook: 
Aprendendo a apreciar o silêncio e entender as possíveis presenças, mesmo quando elas parecem não existir. Existem sim! Eu sou um homem que acredita até o fim.

Hoje, eu dormi abraçado com a minha amada, e ontem eu recebi o email que tanto esperei "dele". O email dizia: como seria bom passar o natal ou reveillon com vocês e com a minha família,  como seria bom irmos todos aí, ou se vocês viessem pra cá. 


Enquanto eu penso na vida, "neles", na minha dança, e em todas as coisas, a Adele continua no som.






Foto: Alex Hermes


domingo, 11 de dezembro de 2011

Amanhã tem INC.


A Cia. Dita fará amanhã, segunda 12 de dez, sua última apresentação do ano. 
E será especial, Wilemara Barros e Fauller abrirão às 19:30h a Mostra Solos e Duos do Projeto Outras Danças, no Teatro Dragão do Mar. 
A programação segue durante toda a semana no Teatro da Bica Rica, 
também em Fortaleza.











Fotos Renato Mangolin



sábado, 10 de dezembro de 2011


Eu não sou; 
eu não estou; 
eu não tenho; 
eu me chamo espera.






sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

Eu não consigo ser o Fauller!



























O bom de ser o que sou, são as permissões que me dou. Eu me permito!
Consequentemente, as pessoas me permitem também, elas dizem com frenquencia:
mas você é o Fauller, você pode fazer isso... Ou então; o seu trabalho permite isso, o meu não!

Pobre do homem cujo a vida depender da permissão de um outro!



quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

Três trepadas homéricas pra curar um amor platônico!


Há tempos vinha pensando em escrever esse post, queria falar de três experiências (sexuais) que me marcaram muito, na verdade, tenho várias outras (todas deliciosas), mas no momento vou me deter apenas nestas.

A primeira:


Entre os quinze e os dezessete anos fui meio apaixonado por um colega de sala de aula (ele era "hétero" e belo), sempre tive queda por homens héteros, me encanta a possibilidade de faze-los se confrontar com a própria sexualidade através de mim. Gosto por exemplo, de encara-los, e perceber se eles se envaidecem, ou se ficam intimidados, o prazer é quase sempre o mesmo. Gosto da provocação, mas sou muito cuidadoso, não saio por aí encarando pitbull.
Então, o meu amigo na época tinha cerca de quinze anos, mas ele já era um homem formado, grande, daqueles bem robustos. Tinha uma pele cor de jambo, um peitoral, uma bunda, umas pernas, resumindo, ele tinha tudo o que eu ainda nem sonhava um dia ter.
Nos davamos muito bem, ele era comunicativo e vaidoso, enquanto eu era lider nato dentro da sala de aula, todos os rapazes sabiam de mim, mas todos me respeitavam, e me tinham em suas rodas, ao que me parece comigo as conversas ganhavam outro tom, e outro nível, já falavamos de arte na época, e vários deles passaram a fazer teatro por minha influência, embora ninguém tivesse talento, isso eu já sabia desde o começo.
Meu amigo se chamava André Luis, lembro que ia na casa dele, e sua mãe ficava bastante incomodada comigo, porque  sempre estavamos próximos demais. Às vezes eu ficava doente, e pedia ao meu tio para dar o recado no colégio, pedia para ele vir me visitar, quando chegava em minha casa, eu sempre deitava em seu colo, de forma que o peso da minha cabeça deixava seu pau visívelmente duro, ele ficava entre incomodado e ofegante, as vezes eu o beijava na boca sob protesto, ele dizia: eu não sou o que você tá pensando, não reagia, não tirava a boca, mas também não retribuia o beijo, eu ficava louco.
Acredito que ele também ficava louco!
Estudamos uns três anos juntos, e juntos mudamos de escola, fomos estudar no centro da cidade, lembro do quanto ele gostava de segurar a minha mão quando entravamos em uma loja, gostava de deixar os vendedores atônitos com a visão de dois adolescentes andando de mãos dadas. Eu confesso que ficava gelado de medo, mas o tesão de tê-lo como meu homem nem que fosse por brincadeira, me fazia seguir sem fraquejar.
No final do nosso ultimo ano estudando juntos, eu já estudava artes cênicas no Theatro José de Alencar, então um dia, fomos no caminho da escola para o ponto de ônibus, quando eu tive a idéia de leva-lo até lá. Ao chegarmos, o disse que queria lhe mostrar algo, ele concordou, subimos as escadarias até o banheiro, entramos, e lá eu o disse: é aqui! Apontando para o box. Ele apenas me seguiu. Fechei a porta, coloquei  nossas mochilas sobre a privada, e começei a beija-lo ardentemente, ele mais uma vez protestando, dizendo que não era o que eu estava pensando. Quanto mais ele falava, mais eu seguia em frente, fui tirando a sua blusa, revelou-se um peitoral grande com deliciosos pelos que traçavam um caminho perfeito para dentro de sua calça jeans, enquanto ele falava, eu descia mais e mais, sempre fazendo questão de provar com a minha língua cada pedaço daquele homem que eu desejei por anos, e que agora estava prestes a ser meu, enfim.
Abri o seu ziper, e tive a visão do paraíso: uma cueca branca (tinha que ser branca, rsrs, clichê dos clichês, mas não posso inventar uma cor que não era), marcada por um cacete que parecia querer fura-la a qualquer preço. Não foi preciso, eu tirei-a com a boca, e ali estava, o objeto do meu desejo, um pau que pulou na minha cara. Era mais que perfeito, cheio de pelos negros em volta, do jeito que eu gosto! O ano era 1995, os homens ainda não conheciam o mau gosto da depilação, e mantinham suas rolas intactas e naturais.
Entre pequenos gemidos, e pedidos para eu parar, ele foi desaparecendo dentro da minha boca, chupei com gosto e desespero, sabia que aquela era uma oportunidade única. Fui bombando a boca naquele pau segurando-o pelas nádegas redondas e peludas, ele ainda tinha uma bunda redonda (típica de quem fazia natação).
Meu Deus, então depois de tanto não, de tanto pare, por favor! Ele encheu a minha boca com o néctar dos deuses! Um leite branco de menino hétero e adolescente, um encanto! Lembro-me que ele logo perguntou de forma incrédula: você engoliu? Para não assusta-lo deixei cair uma gotinha na minha blusa da farda, e disse: não, tá aqui. Ele retrucou; mentira, você engoliu mesmo.
Só deu tempo isso, e logo entrou alguém no banheiro, rapidamente, sentei sobre a privada com as mochilas nas mãos, e levantei as pernas, ele fez que estava mijando. A pessoa saiu sem nos perceber. Nos arrumamos, e saímos em direção a parada de ônibus.
Nunca demos uma única palavra sobre o ocorrido, na verdade não lembro de mais nada depois disso, nada mesmo. Logo depois perdemos o contato, pois eu mudei de escola mais uma vez, e passei estudar no turno da noite.
Hoje eu fico pensando, o que será que ele pensaria disso tudo, nunca mais o vi na vida. Apenas sei que ele casou e se encheu de filhos. Não consigo o imaginar assim, para mim ele sempre vai ser o menino de quinze anos, hétero, gentil, robusto, e com um sorriso que me matava.


Ele fazia outra coisa que eu adorava: pegava nos meus punhos com toda a força que lhe cabia, e me empurrava contra a parede, eu fingia indignação, enquanto ele dizia: você gosta disso. Eu retrucava: sai, saí daqui monstro! Só eu sei o quanto aquilo era bom, eu via o prazer em seus olhos, prazer em me pegar com força, mesmo que fosse de brincadeira.



A segunda:


Depois dessa experiência, alguns anos depois eu começei a namorar com outros caras, transei com direito a tudo mesmo com outro homem apenas com dezoito anos, já estava desesperado me sentindo velho, e achando que jamais iria perder a virgindade. Mas aconteceu e foi lindo, acabei namorando com o cara durante quase dois anos. Logo depois que esse namoro terminou, de forma não tão bonita quanto começou. Iniciei o que chamaria mais tarde de minha "primeira experiência antropofágica", ela consistia em devorar o (s) outro (s) , naturalmente. Eu passei pelos próximos três anos (em seguida eu conheceria a minha mulher, a pessoa que pôs ordem na minha vida) querendo comer e ser comido por todo o mundo.
Participei de verdadeiras orgias, onde quase sempre eu era o prato principal, imaginem só: jovem, bonito, e com um fogo que era difícil de apagar. Transava com um, dois, três, quatro... dez caras em uma única noite, todos me comiam até cansar. Fiz isso algumas vezes, e sempre com uma atenção minuciosa com os preservativos em seus devidos paus. Essa era minha rede de proteção, jamais pularia sem rede.
Às vezes depois de transar com dez, chegava a repetir com os que ainda tinham energia, eu queria ficar esgotado, adorava a sensação de cansaço, de ficar acabado, kkkkkkkkk.
Acho que ali havia a fantasia que mora em muitas pessoas (homens, gays, mulheres), de serem possuídas por muitos. Acho que isso também tem haver com o meu enorme ego, de querer ser o centro. Como é difícil falar sobre isso. Não sobre as fodas, mas admitir coisas sobre o meu ego. Todos nós temos problemas em admitir a força do próprio ego. Ainda bem! É preciso domá-lo.
Mas enfim, eles me pegavam de quatro e montavam no meu lombo como se eu fosse um cavalo puro sangue, me acabavam, enquanto eu gritava, ria, e quase chorava de tanto prazer. Gostava mesmo de toda aquela putaria, mas havia sempre em mim uma intenção de pesquisa, de entender o meu desejo e o dos outros. Meus amigos, e até a minha mulher não conseguem vê dessa forma, eles apenas acham uma grande safadeza da minha parte, rsrs. Não me incomodo, para mim aquilo era sério, era a mistura perfeita de prazer e pesquisa de campo, kkkkkkkkkkkkkk. 
Me sentia um Oswald de Andrade pós-moderno!



A terceira:


Acredito que ainda vou falar de outras fodas aqui, esse troço é bom, nunca tinha escrito sobre isso, e confesso que ri horrores lembrando cada momento, cada pessoa, hum coisa boa!
Mas então, esta ultima é para mim talvez uma das mais lindas, e que certamente me tranformou na pessoa que sou hoje.
Veio trabalhar conosco um rapaz do interior, ele é filho de pescador, e lindo de morrer, um príncipe! Já devem saber de quem falo né? Tudo aqui no meu blog diz respeito a ele, o cara que amo.
Ele veio, e eu jamais imaginaria a encrenca em que estava me metendo. Fui recebe-lo na praça, o levei para a sala de aula, trabalhamos, e assim foi nos meses que se seguiram. Com o tempo ele passou a dormir na minha casa, no começo isso não era necessário. E claro que o fato de ter aquele homem dentro de nossa casa, fez com que eu e minha mulher ficassemos sem conseguir dormir direito.Vários amigos já dormiram em nossa casa e nada aconteceu, mas com aquele menino era diferente, ele cheirava a mato, tinha cheiro de homem, costas largas, musculatura talhada pelo mar de sua cidade praiana.
Não posso negar que logo ele estava em nossa cama, demorou uns dois meses, e aos poucos eu fui fazendo a coisa, até que um dia eu o falei na cara dura: fulano, olha só, eu e Wila somos adultos, e você não é mais nem uma criança (ele tinha 24 anos na época, agora estar com 27), então o que acontece é o seguinte...
E foi lindo, aconteceu da forma mais incrível que jamais houve na minha vida. Voltamos de um ensaio, e já havia um certo clima no ar, uma cumplicidade que só existe entre pessoas que partilham a mesma cama e os mesmo desejos. Então tomamos banho, cada um tomou o seu, jantamos, conversamos de forma animada, e por fim, acabamos nos brindando com uma sessão de massagem. Isso teria uma condição, teríamos que ficar inteiramente nus, uma delícia!
Minha mulher começou massageando nós dois, primeiro um depois o outro, a luz de velas no quarto, o vento entrando pela janela, típico de cidade do litoral, contribuíram para deixar aquela atmosfera onírica, parecia um sonho, só o conhecíamos há pouco mais de dois meses, mas confesso que naquela altura, eu já estava apaixonado por ele também, aqueles dois seriam o que tenho por amor até os dias de hoje. E assim fomos, embarcamos naquilo que parecia não ter fim, ela massageou nossas costas com um delicioso óleo, depois nossas nádegas, nossas pernas, nossos peitos, e por fim nossos paus, eles já estavam rachando de tão duros. Eu via a minha mulher sentada sobre aquele homem lindo, queria morrer alí, eu não precisaria de mais nada, e de mais ninguém, apenas deles! Pra que amendoeiras pelas ruas? Para que serveriam as ruas?
Logo depois foi a nossa vez, ela deitou, fechamos os seus olhos, e começamos a toca-la de forma suave, às vezes forte, deixando-a louca, ele se arrepiava, e nós dois nos olhavamos, cada um sorrindo com uma ponta de crueldade, e cumplicidade. Ele era ótimo, não avançava o sinal, ia apenas até onde eu sinalizava, massageamos cada centímetro do corpo delicioso de minha mulher. Até que chegamos em seus peitos, primeiro toquei um, e balancei a cabeça para que ele também o fizesse, ela ficou ainda mais louca, ficamos ali um tempão, deixei ele tocando-a e fiquei apenas olhando, suas mãos grandes envolviam seus seios por completo. Descemos até a sua barriga, e por fim até a sua buceta, massageamos seu clitóris, judiamos juntos uns aos outros. Não aguentavamos mais, nem eu, nem ele, muito menos ela ,coitadinha, em nossas mãos. Começei a chupar aquela buceta molhada como um bezerro desmamado, enquanto ela o mamava como uma bezerra faminta. Fomos alternando tudo, nossa, até que eu começei a come-la em um maravilhoso vai-e-vem. Meu olhar o dizia, calma tem já pra você, e ele assistia a tudo aquilo com um olhar de encantamento, de menino que só ele tinha, e ainda o tem.
Cansei, me deitei na cama do lado dele, nos olhavamos sorrindo, sapecas! Mas a minha amada não se deu por vencida, montou nele feito uma amazonas, cavalgando em seu pau com verdadeiro conhecimento de causa. Aquilo mais uma vez nos deixava a beira da loucura, gozamos como três loucos, como três condenados, ou sei lá, como três cavalos.
Eu adorava vê-los trepando. Eu e ele jamais fizemos amor (apenas dormimos de conchinha, e nos tocamos em massagens), mas para mim, foi como se todas as vezes tivessemos trepado também. Eu o ensinei muitas coisas, e aprendi outras tantas com ele; sabia como pegar uma mulher, gozava sempre na palma da mão (engraçado isso), e não se lavava depois do ato (acho isso maravilhoso, ele dizia que era para não perder a energia da coisa, também passei a não me lavar logo depois, a gente sempre se lava como se o sexo fosse algo sujo).
Transamos outras tantas vezes, e sempre foi tão diferente, e sempre tão bom. Uma vez transamos em cima da mesa da sala de jantar, outra tomando banho, cada um com os olhos vedados, no som tocava Sade nesta noite, parecia música de motel, mas foi lindo ainda assim.
Essa transa, me fez pensar sexo de outra forma, não sinto mais aquela vontade de comer o mundo, nem de ser comido. Ir para cama com eles dois me fez passar todos estes últimos anos acreditando no amor. Depois que tudo acabou, eu aprendi a esperar, e aos poucos eu ainda estou apredendo, nem sempre é fácil, tem dias que eu quero sumir, mas também há belos dias em que ele vem, e me faz pensar em esperar um pouco mais.
Aos poucos eu estou aprendendo a amar (amando um homem e uma mulher de forma tão intensa, e completamente diferente um do outro). A gente sempre pensa que sabe amar, sabe nada! Leva tempo para aprendermos, e precisa de um bocado de dedicação.
Quem sabe um dia eu volte aqui com a feliz notícia de que ele é de fato nosso de novo. Algo no fundo me diz isso, e o meu instinto nunca me engana!

    

segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

Dia 8, votação contra homofobia no senado. Fiquem atentos!


Gente, dia 8 agora vai ser votada no Senado a PLC 122, que criminaliza a homofobia. Gay, não-gay, todos nós precisamos de um Brasil menos trabalhado na Idade Média. Os evangélicos do legislativo já começaram a campanha deles. Não vamos ficar pra trás. Gasta um tempinho, mas é importante, e não precisa nem levantar.

Liga gratuitamente pro Senado e pede para os senadores do seu Estado e todos os outros para APROVAREM a PLC 122/2006. O telefone: 0800-612211.
Para mandar e-mails ou telefonar pros senadores, a lista tá aqui: www.senado.gov.br/senadores. (Se puder, também compartilha essa mensagem.)
http://www.senado.gov.br/
Lista de Senadoras e Senadores em exercício no Senado brasileiro em ordem alfabética por nomes e suas informações institucionais no Congresso Nacional
 
 
 

domingo, 4 de dezembro de 2011

Essa luta é de todos nós!


Sou de uma geração de artistas que cresceu se colocando politicamente. Cresci como bailarino e como coreógrafo falando o que penso, e me impondo sempre que preciso para manter a minha autonomia, e ter o mínimo de recurso, que me é de direito, vindo do governo do estado.
Sou de uma geração que já nasceu com muita coisa, graças as lutas constantes de uma classe que não se acomoda. Tenho orgulho de ser da dança do Ceará. Uma classe tida como uma das mais organizadas no estado, e politicamente uma das mais fortes no país.
Portanto nós nunca, eu disse nunca! Vamos calar diante da atual apatia, e total descaso dessa atual gestão.

Segue texto de Joubert Arraes.

sábado, 3 de dezembro de 2011


Secult é só descaso com a Cultura no Ceará

No começo do ano de 2011, escrevi palavras esperançosas sobre a nova gestão da secretaria de cultura do estado, num texto crítico de retrospectiva do que aconteceu neste ano para/com a dança no Ceará: Que nome nós é próprio na Dança?

Talvez por acreditar que, mesmo com os níveis baixo de comprometimento, a classe artística havia conseguido ganhos consideráveis, como um edital mais próximo, ou menos distante, da realidade das linguagens artísticas, por exemplo.

Agora me entristece ver que nada foi feito, evidenciando o grau de atraso da nossa secretaria estadual de cultura, quando não faz o mínimo, que é ter abertura para o diálogo para, assim, conhecer o contexto cultural. Pelo menos, era para ser.


Se a gestão de Auto Filho como secretário de cultura do governo anterior, já eram nítidos os problemas e perdas consideráveis para a pasta da Cultura. O que não imaginávamos é que tal situação poderia ficar mais grave, isso mesmo, o que ninguém imaginava é que ainda poderia ficar pior. E está mesmo!

Chegamos em dezembro, o ano já findando e o único sentimento que temos é de indignação, com letras bem grandes. Dois assuntos evidenciam isso: o VIII Edital Ceará de Incentivo às Artes 2011 e a atual situação do Curso Técnico em Dança - CTDanca/Ceará.
Alunos da 3a, turma do Curso Técnico em Dança (IACC/Secult/Senac). 
É fato. A classe artística não está satisfeita com a atual gestão do Governo Estadual. É muito descaso com a Cultura. Enquanto outras instâncias, como a Prefeitura e o Governo Federal, vem avançando em suas políticas de atuação (outro assunto que merece debate), a Secretaria de Cultura do Estado - Secult/CE, na gestão do Governador Cid Gomes, só demonstra pouco caso com o contexto que dá sentido a sua existência administrativa dentro de um governo. Muitos são os motivos. 

Há muita dificuldade para conseguir marcar reuniões que, quando é um só agendada, acaba por ser desmarcada um dia antes, por motivo de viagem ou outra reunião de última hora. É sempre a mesma justificativa.

A dança, em especial, tem sido uma das mais prejudicadas com essa negligência/descaso/desinformação.

Recentemente lançado, o Edital das Artes da Secult (VIII Edital Ceará de Incentivo às Artes 2011) teve um regresso nas conquistas, desconsiderando o que foi acordado na gestão anterior, com relação às categorias e à distribuição de apoio. Passaram por cima, pois o que está lá neste edital não condiz com a especificidade de cada categoria e o que foi construído em um dos poucos momentos de dialogo no governo anterior. 

Por exemplo, na categoria "Pesquisa" eram 2 prêmios de R$ 20 mil cada, no edital 2010; agora são 8 prêmios de R$ 5 mil. Assim, o total de R$ 40 mil foi dividido segundo uma lógica meramente quantitativa, uma vez que o valor atual impossibilita a boa realização de uma pesquisa, fato presente nas primeiras edições desde edital. Ou seja, representa um regresso e evidencia a indisponibilidade para um diálogo, já que a classe artística da dança sempre este em prontidão.

Parece mesmo ser uma mera decisão de gabinete, essa da Secult, desconsiderando a complexidade da dança como área cultural e não merecendo ter o nome que tem: um edital de incentivo às artes? Como assim? 

A saber, o Banco do Nordeste, que já vem estreitando relações de forma positiva com a Dança, por meio  da programação do seu centro cultural em Fortaleza e Juazeiro do Norte - CCBN's,  também lançou um edital onde reconhece a especificidade da dança (Edital Programa Banco do Nordeste de Cultura 2012). Neste edital a dança está como área independente, dada sua força local e suas demandas específicas nas chamadas artes cênicas.

Ainda, o Curso Técnico em Dança - CTD está há dois meses está sem recursos, no andamento da sua terceira turma, e tem sido mantido por uma ação voluntária de aulas de ex-alunos do curso. Contudo, decidiu suspender as aulas até que algo seja feito.

Neste assunto, o descaso segue o mesmo padrão. O Fórum de Dança tem marcado reuniões com Isabel Fernandes, diretora de Ação Cultural do Centro Dragão do Mar, que é um dos parceiros no Curso Técnico em Dança, junto com Secult e Senac, no entanto, as tentativas são frustradas, sendo desmarcadas rotineiramente. Na última tentativa de uma conversa, uma reunião que aconteceria com ela esta semana foi desmarcada sob alegação de outra reunião, agendada na última hora.

Houve até uma visita surpresa, por parte dos alunos da 3a. turma, que correm o risco considerável de não se formar, mas, ao que pareceu, foi uma conversa evasiva com nenhuma decisão acertada ou esclarecimento convincente.

Importante enfatizar que o Curso Técnico em Dança tem cumprido uma função decisiva no contexto formativo em dança no Ceará, que hoje conta com a graduação em dança pela UFC, iniciada este ano somente. Antes disso, já há 7 anos, é o CTD que vem acolhendo os artistas e pessoas interessados em uma formação especifica em dança. Consideremos também o reconhecimento nacional de alunos formados no CTD, dado seu nível de qualidade.

Por isso, o atraso no repasse de verbas, sem qualquer sinal ou previsão de resolução, pode prejudicar o andamento da 3a. turma, tornando inviável sua formatura, contribuindo ainda para o aumento do índice de evasão e desistências dos alunos, muitos deles bem desestimulados.

Há mais coisa, sei, sabemos. 

A situação do Curso Técnico em Dança e o recente edital das Artes da Secult são os evidenciadores de uma gestão estadual pouco ou quase nada sensível às demandas dos artistas e de um atraso quando desconsidera a importância da dança no processo de desenvolvimento artístico e cultural do nosso estado.