sexta-feira, 13 de agosto de 2010

Para que trabalhar a voz? Se poucos sabem o que dizer.

 
Acabei que chegar do teatro, assisti ao novo trabalho do Grupo Bagaceira de Teatro, INcerto.
E é engraçado como cada vez que vejo o Yuri Iamamoto e a sua trupe, saio repensando o meu trabalho.
Dessa vez, saí repensando não só o meu trabalho, mas a minha própria vida, rs.
O trabalho é sobre o processo criativo do grupo, sobre a sua vivência, e experiências internas. Até aí tudo bem, e depois? Tudo bem ainda, o grupo organiza o seu discurso, sua poética e a sua estética de forma que nos fica clara o porque o Bagaceira é hoje um dos grupos de teatro mais especiais do Brasil, e além disso, deixa claro, põe sobre a mesa da sala de jantar, as suas fragilidades, questões internas de convivência (e conveniência), e isso torna o trabalho deles, mais uma vez, uma verdadeira experiência.
Eu tenho escrito bastante nos últimos meses, e confesso que como eles também tenho as minhas crises: de existência e criativas, também há vezes que me acho foda, e outras que me acho um cocô, e ainda em outras uma mentira. Mas nunca uma verdade absoluta.
Nesse exato momento, eu posso dizer que estou em um lugar muito arriscado, da minha vida e do meu trabalho. Mas quando é mesmo que não me sinto em risco? Sempre tive uma queda por correr riscos, sempre penso que a cada espetáculo que estréio será o fim da minha carreira, das carreiras dos demais que trabalham comigo, e que será o fim da nossa reputação.
Hoje, passo por uma crise de trabalho que é mais ou menos assim; quero dançar, quero escrever, quero fotografar... é um excesso de criatividade, rsrs.
Tenho pensado fortemente em fazer uma faculdade de letras, pois adoro, amo a leitura e a escrita, já que não conseguiria passar mais quatro anos estudando dança de dentro de uma universidade, e também porque penso diante mão em fazer a minha pós-graduação em Paris (é claro), pois penso claramente que não viverei por mais tantos anos nessa cidade quente, suja, e pior de tudo sem estilo, sem glamour.
Mas, enfim, porque falar tudo isso? Me parece meio idiota, ficar escrevendo sobre as minhas crises, quando na verdade eu quero escrever sobre o Bagaceira e seu espetáculo.
Pois bem, acho que quando vejo o trabalho do amigo Yuri, realmente me sinto orgulhoso de ser dessa terra, de ser da mesma geração dele (s), e penso como é bom ser tocado, como é bom sentar e vê algo que te atravessa, que te diz algo, que te faz sair do teatro sem vontade de mais nada, porque não cabe mais nada para tal noite.
O Bagaceira faz Dez anos com frescor de juventude, energia de criança e maturidade adulta, e INcerto é o espetáculo do ano!
Momento mágico esse ano do teatro cearense, tenho visto tudo que posso, todos os trabalhos, e percebo como o teatro deu uma volta por cima nesses ultimos anos criando múltiplas facetas, discursos diversos e consistentes, virou teatro: Máquina, Parque, Expressões, Imagem, Soul, Ricardo...uma vez que vinha sempre assistindo de camarote a reinação da dança do Ceará. E agora¿ Eu pergunto, nos percebo tão calados, será só uma impressão individual¿ Que trabalho nesse momento pode realmente dizer algo pertinente na dança do Ceará? Estamos cheios de processo, cheios de pessoas pensantes, e isso é ótimo, e aí eu (me) pergunto: e dança?
Vou deixar a pergunta no ar!
Sabe, em meus trabalhos eu acho o agradecimento algo super importante, eu posso até ter ido péssimo, mas agradeço como um rei (nunca como um príncipe de balé), quando agradeço, pois muitas vezes os meus trabalhos não cabem voltar para receber aplausos, então se não cabe, não vou voltar só porque quero que o público enlouqueça pelos meus olhos azuis. Aí quando vejo um trabalho, quase nunca levanto e bato palmas de pé, só o faço quando o trabalho de fato merece que eu fique de pé. Só me lembro de ter gritado "braaavo" uma vez, porque realmente não me contive, porque era mais que merecido.
Hoje, eu quis levantar, bater palmas, ser da peça, ser do grupo...mesmo que apenas por aquele momento.
Hoje eu quis mesmo trazer para os que não viram, um pouco do belo (eles falam sobre o belo no espetáculo).



Alguém fala assim: tudo que é belo tem que ser cuidado, o belo requer disciplina, sem disciplina a beleza se desfaz rapidamente, a roupa desbota...
...esse algo fica como um produto chinês, pois tudo que compramos da China se acaba em pouco tempo!

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