terça-feira, 18 de outubro de 2011

Dragão do Mar - Formação em crise

Uma das áreas de atuação do Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura (CDMAC), a formação funciona sem continuidade de ações, por insistência da classe artística
Gestora do Café Teatro das Marias - uma das casas que fomentam a cultura que sobre-existem no entorno do Dragão do Mar - e diretora da Cia Vatá de Dança, Valéria Pinheiro reclama ainda da falta de diálogo da casa com os equipamentos de seu entorno. "A única relação com o entorno é que ele nos manda o folheto da programação. Não existe qualquer tipo de diálogo para fazer uma programação itinerante, por exemplo. Nossa parceria maior tem sido com o Sesc", brada.

Ela aponta que as únicas programações fomentadas pelo próprio centro cultural todas foram gestadas nos fóruns organizados pelas categorias artísticas, a exemplo do Teatro da Terça, Quinta com Dança, do Domingo Musical, etc. Valéria reclama ainda que são insuficientes para abarcar horários ociosos durante a semana. "Eu moro do lado, convivo e vivo do lado. O centro cultural é absolutamente parado até 17 horas". E polemiza: "é o dragão que menos solta fogo no mundo. É de brinquedo".
Três pilaresConcebido originalmente sobre três pilares - difusão, fomento e formação -, o Centro Cultural tem este último talvez como o mais esquecido. Diversas salas inicialmente dedicadas ao ensino foram inclusive ocupadas por setores administrativos.

O único projeto de formação continuada que permanece em atividade é o Curso Técnico em Dança, que hoje aguarda a liberação de recursos por parte da Secretaria da Cultura para dar sequência aos oito meses finais e formatura de sua terceira turma. Criado em 2005, o curso foi uma demanda do Fórum de Dança do Ceará, e é realizado pelo Instituto de Arte e Cultura do Ceará (IACC - Organização Social responsável por gerir o CDMAC), em parceria com o Serviço Nacional de Aprendizagem (Senac) e Secult/CE.

A coordenadora pedagógica, Andréa Bardawil, minimiza a incerteza em relação a liberação da verba, o que, segundo ela, deve acontecer nos próximos dias. Ela destaca a importância de ações voltadas para formação artística no Estado. "Grande parte dos trabalhos de finalização das turmas estão circulando hoje em projetos de formação de plateia de centros culturais. Eles também marcam uma nova geração de criadores que começam a ter projeção nacional", defende.

Bardawil atribui a falta de políticas duradouras de cultura como um dos entraves para atividades de formação continuadas. "O grande mérito do curso ter se mantido gestão após gestão foi o posicionamento da classe artística. Porque tem que renovar recurso, renovar parceria", explica. O curso já possui duas turmas formadas e está em fase de conclusão da terceira.

Ela lamenta ainda que com o fim do Instituto Dragão do Mar tenha havido uma quebra na política de formação do Estado. "A expectativa com a extinção (do Instituto) é que o Dragão do Mar cobrisse essa lacuna e isso não aconteceu, até agora. Existem tentativas, mas sempre uma coisa descontinuada. É um vácuo", lamenta.

Enfim a classe se manifesta, o que me deixa muito orgulhoso, e feliz, por saber que não sou o único artista cearense descontente com a atual gestão cultural do meu estado.
Publicado em 16 de outubro de 2011 
Principal equipamento de fomento cultural no Estado, o Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura tem seu funcionamento limitado, com quase nenhuma atividade formativa e difusão quase restrita a iniciativas externas. Artistas reclamam da falta de diálogo e dificuldade no acesso aos espaços para apresentações
O Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura (CDMAC) é hoje uma referência nacional quando se fala na cidade de Fortaleza, sendo um dos principais pontos de visitação turística da Capital. É nele e em sua vizinhança que se concentram grande parte das ações culturais da cidade, a exemplo da Bienal de Dança, da Feira da Música, atualmente a Casa Cor, além de receber seminários, peças teatrais, exposições, etc. São pelo menos 4,5 milhões de visitantes e 8,5 mil eventos realizados entre 2007 e 2010.

A movimentação cultural e a circulação de pessoas em números absolutos escondem, porém, uma realidade um tanto diferente: um centro cultural que pouco investe em formação continuada, com ações de difusão limitadas à um edital de ocupação insipiente e com uma programação em grande parte promovidas por outros atores culturais. Artistas locais reclamam ainda do pouco diálogo e do ociosidade dos espaços na maior parte da semana. O público concentra-se nas noites e nos finais de semana, e em grande parte frequentam apenas bares, restaurantes e boates do entorno, em detrimento das atividades culturais.

Território vasto
O equipamento cultural conta com 30 mil m² de área construída, dois museus, anfiteatro, teatro, auditório, planetário, cinemas, duas praças entremeando sua estrutura além de um vasto espaço aberto e possível às mais diversas ocupações. O que era para ser o dinamizador da produção cultural cearense - e que sob alguns aspectos teve sucesso - corre o risco de cair na inércia que paira hoje sobre a política cultural do Governo do Estado do Ceará.

À parte as imagens que são vendidas aos turistas e para quem circula de passagem pelo CDMAC, sob o crivo dos artistas e produtores culturais, muito se tem a dizer sobre esta realidade do centro cultural. O músico e produtor Isaac Cândido aponta questões como a falta de divulgação para quem frequenta o espaço, mas não participa da programação. "Quem está no entorno não está sabendo o que está acontecendo no Dragão do Mar. A maioria dos espetáculos estão tendo problemas em relação a público", aponta.

Isaac reclama ainda das poucas iniciativas promovidas pelo próprio centro cultural e da falta de incentivo aos artistas locais. "Antes, (o CDMAC) fazia parcerias, dando estrutura e dividindo a bilheteria de um show com o artista, por exemplo. Hoje, faz projeto com cachê pequeno, sem som e sem estrutura", reclama.

Entre os entraves, ele aponta a cobrança de altas taxas de ocupação dos espaços do Centro. "O anfiteatro está impossível (de se utilizar), hoje em dia. A não ser que você faça projeto com lei de incentivo ou tenha patrocínio. É uma pauta cara e você ainda tem que alugar luz e som", diz.

Segundo informações do próprio CDAMC, atualmente, a pauta do espaço custa R$ 1,2 mil, sem equipamentos de som e de iluminação, como destacou Isaac. A pauta do palco nobre do centenário Theatro José de Alencar, outro equipamento cultural vinculado ao Governo do Estado, tem um preço especial para os artistas locais. Sai por R$ 698, acompanhando som e luz.

Teatro
A mesma linha crítica segue o ator e diretor de teatro Silvério Pereira. "Especificamente esse ano, (o CDMAC) tem passado pelo mesmo problema dos outros equipamentos, que é a não presença da Secretaria da Cultura. Há algum tempo, o que mais falta é dar abertura para artistas ocuparem os espaços, seja com ensaio, experimentações, pesquisa. O Dragão não esta aberto para os artistas", critica Silvério, taxativo.

Tomando por exemplo os editais de ocupação promovidos anualmente pelo Dragão do Mar, segundo Silvério, os cachês estão congelados, em R$500 por apresentação, há, pelo menos, quatro anos. "O equipamento por si só é grandioso e maravilhoso. Mas aparentemente é mais privado do que público", lamenta. 



críticas

Dragão sem fogo

Publicado em 16 de outubro de 2011 


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