terça-feira, 15 de março de 2011


Antes de ontem foi domingo, e eu não fiquei em casa, fui para a sala de aula, trabalhar faz bem a alma, e certamente dignifica o homem. Uma mestra do passado já dizia: meu querido, quando tudo estiver dando errado, entre na sala dia após dia, e apenas dance, dance até quebrar todas as suas resistências da alma.
Ela estava certa. Iniciei na prática o que já vinha tocando há tempos na teoria, eu só queria uma desculpa.
Hoje voltei a sala para ensaiar L’après Midi D’un Fauller. Não foi nada fácil, putz, como é difícil ensaiar esse trabalho. Como é difícil revisitar as sensações, e as motivações que me fizeram querer o compor. Eu não sei se ainda quero ficar muito tempo o apresentando, depois que cumprir com todas as minhas apresentações que já estão agendadas. Torço para que não seja um tormento.
Tudo foi difícil, subir novamente naquele salto alto de 18 centímetros, e puxar suas rédeas. Subir no monociclo foi ainda mais doloroso, parece que ele trás uma carga de lembranças, e de sensações que me colocam como alguém solitário, nas bordas do abandono (em um determinado momento, enquanto estava sentado ainda nele, parei na janela, olhei o horizonte possível de se ver, e fui de veras tocado por aquela música, não me contive). Desci, e em um desespero contido de sala de aula, me sentei e escrevi compulsivamente. Que bom, que bom mesmo, isso me trouxe de volta tanta lucidez, várias questões que me incomodavam no trabalho acabaram se resolvendo ali mesmo, trouxe para casa outras a serem resolvidas sem mais temor, e junto a elas trouxe uma certa alegria em me sentir vivo com esse processo de trabalho.
Agora outra questão, que vem tomando o meu pensamento há muitos dias. Eu fico realmente muito impressionado com a quantidade de pessoas que visitam esse espaço, talvez por eu ter um dia achado ingenuamente que ele era só meu e das pessoas que eu escolhesse, que bobo isso. Mas de fato o que me impressiona é que quase todo mundo cala. Eu não sei, se isso denuncia uma carência minha em dialogar com as pessoas, ou se de fato calam por ser mais cômodo diante dos meus posts (entendo que deva ser muito mais cômodo e "fascinante" postar frases "meigas" no facebook, e ter 40 comentários, e várias "curtições", entendo que o ego precisa ser amaciado dia após dia).
Eu tenho consciência do tamanho da minha exposição, estava conversando sobre isso semana passada com um bailarino que trabalha comigo, e não é porque eu estou pelado mostrando o pau, mostrando o cu, não, nada disso, até porque cu pra mim é igual a boca, é igual a qualquer outro buraco que tenho no corpo, cu é uma bobagem gente, e também é uma delícia, não? Adoro cu, gosto de cu de mulher, embora prefira cu de homem, os pelos em volta, o piscar cheio de opinião, sabe? E o cheirinho? Muito bom cheiro de cu, lembro de uma vez em que o amigo coreógrafo Marcelo Evelim me disse que não gostava de um espetáculo que acabavamos de assistir, porque segundo ele "estava todo correto, mas faltava aquele cheirinho de cu, que uma coisa tem quando é boa".  Olha eu aqui, já quase filosofando sobre o fascínio que o cu exerce sobre nós (o cu tem as suas finalidades nobres também, não sejam hipocritas, que eu sei que vocês adoram, kkkkk).
Mas para mim, exposição mesmo, é quando falo das minhas fragilidades, dos meus medos, dos meus anseios, aí sim, me sinto me desnudando. De qualquer forma sei que um dia posso pagar caro, por me expor sem pudor ou culpa, também já conversei sobre isso com outra amiga, e ela me disse que é verdade, que posso pagar por isso tendo o meu nome jogado na lama, mas que sabe também que se isso acontecer, sabe que eu tenho culhões para agüentar o tranco.
E no fim das contas, tudo isso me coloca pra pensar em como as pessoas da minha cidade são caretas, e os artistas não fogem a essa regra, aff, cidade careeeeeeeta. Pior, sem querer generalizar, é que alguns artistas se acham os tais, contemporâneos, modernos, só porque colocam algumas citações no facebook, chatos.
Nossa, mas eu estava indo tão bem, estava tão doce, de repente fiquei assim, amargo. É, é isso mesmo.
É melhor eu me deter aos meus processos, que ficar aqui analisando ética, e posicionamento artístico alheio.


9 comentários:

  1. Calar..Eu visito sempre seu espaço.Porém, tem coisas que é dificil falar. é dificil falar escrevendo, e tem o medo também , de não ser compreendida devidamente , as palavras lidas não são como as palavras ditas olho no olho. E tudo seu é tão forte , tão passivel de ser discutido. Que ás vezes é necessário cautela. E tem mais :ás vezes não concordo e é tão dificil não concordar por meios virtuais . Dai a base do meu silêncio, porém, tudo o que leio fica em mim se processando para ter fim numa conversa ao vivo.
    Estou em silêncio mas, não estou sem opinião sobre ti e sobre o que tu posta aqui. Meu silêncio é espera e está vivo de sensações.
    Com carinho
    Silvia Moura.

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  2. Poxa Silvia, isso vindo de você muito me acalma as dúvidas. Porque eu sinto que as tuas palavras são tão francas. E eu acho que eu te conheço já um bocado pra pensar em você como verdadeira exceção. Você é para mim uma mestra (embora eu não goste dessa palavra), prefiro dizer que você é alguém que muito me agrada estar próximo.

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  3. Tão louco isso né? Discussões virtuais são sempre tão cutelosas. Realmente não há nada melhor que um bom e velho "olho no olho". Calar pra mim acaba sendo só uma forma de te ver por aqui tio. Não que eu discorde ou concorde com tudo e queira expressar isso de alguma forma. Mas é uma forma de ter as pessoas 'perto' assim como elas são. e faço minhas as palavras da Silvia: "é tudo tão forte, que as vezes (quase sempre) é necessário cautela."
    Meu silencio é proximidade, ou a vontade dela.

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  4. Nem todos os artistas dessa cidade são assim.
    E quando vc me fala isso(referente aos artistas caretas) lembro-me de um dia na bienal que eu participava de uma instalação(a do tomate e do homem na parede) e vc me olhou e me desaprovou quando eu ultrapassei os limites e quebrei o negocinho lá de acrílico.Não era para participar?.Aquilo para mim foi mortal vindo de vc, que eu em alguns casos me identifico muito, fiquei me sentindo mal, nunca lhe falei isso por que enfim... mas que artista é esse que vc fala?

    Eu tambem me exponho, me mostro, e sou criticado por isso. Descobri que sou minha própria obra, e acho que vejo o mesmo em vc. Sou a obra 24 horas do meu dia(É! FALO TAMBEM DAQUELAS ROUPAS PASSADAS)

    O fato é que o que vc escreveu é meu também.Sinto como se vc tivesse roubado essas palavras de mim.rsrsrsr.

    doido né
    só não concordo com o cheirinho de cu
    kkkkkk

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  5. Sabe Felipe, naquele dia eu percebi de imediato que fui infeliz com a minha desaprovação, é verdade. EMBORA! Eu penso que, se você vai a um trabalho em que tem uma pessoa como o objeto de arte, e lhe é sugerido poder manipula-la, por uma questão de respeito e de delicadeza, você não vai torcer o braço dela até quebrar, falo isso a respeito de um objeto d'arte, pode ser gente ou coisa.
    No entanto, eu também acho que a minha reação foi reflexo de uma desatenção que percebi em você, desatenção que já havia percebido antes, várias vezes (embora eu veja também tantas possibilidades em você, e lembre bem de outras ocasiões em que você muito me impressionou). Mas eu acho que isso tem que ser dito pessoalmente só pra vc, e não aqui.
    Quanto aos "artistas caretas", são tantas questões que me levam falar isso, quem é, é e pronto, vai ficar com ódio de ler isso, e quem não é, sabe que não é.
    Eu havia escrito outro recado grande explicando isso, mas a porra do blog expirou o meu recado, então fica até aqui mesmo.

    Nos falamos com calma pessoalmente, viu?

    Um beijo.

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  6. rsrsrs, Wila disse que eu pareço estar com raiva, mas não é, por favor, é que estava tentando não perder de novo esse recado, ufffffa.

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  7. Ok!
    Mas se coloco-me como objeto de arte, tenho de aceitar que estou ali para qualquer coisa,não tenho que exigir delicadeza.Ele não estava ali? por que tenho que ser delicado com ele? por que o mundo precisa? queria ver até onde ia o discurso poético do tomate.Se vc me manda expremer um tomate, eu vou expreme-lo,pq? por que não sou delicado.Enfim... já to entrando no divã,rrsrsrsrs!

    É bom ser respondido.
    BJUX

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  8. Sei que vc não ficou com raiva
    vc não é uma menina de cinco anos
    rsrsrsrsrs
    bjus

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  9. há muito não vinha aqui. E o bom de regressar é ainda me identificar.

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