segunda-feira, 3 de setembro de 2012


Saudade de habitar o meu próprio blog.
Queridos, tenho andando muito ocupando produzindo e ensaiando quatro espetáculos que serão apresentados agora no mês de setembro, cada final de semana será um.
Ontem eu e minha companhia tivemos uma noite linda: teatro lotado, calor humano, risos, choros, amigos, ilustres conhecidos e gente que nunca vi (isso é tão bom, sobretudo quando é em nossa cidade: Fortaleza). Muito bom mesmo saber que 10 anos depois ainda tem gente interessada em assistir o De-vir e os demais trabalhos criamos nessa primeira década juntos.
Escrevi dois textos, e gostaria de dividir com quem possa está aí do outro lado. Um beijo!


Para Marcelo Hortêncio,


Não é todo dia que podemos comemorar 10 anos de alguma coisa. Tão pouco comemorar 10 anos trabalhando (dançando) ao lado de alguém que admiramos, que nutrimos um profundo respeito e amor. 

Quando comecei a minha trajetória no Colégio de Dança do Ceará eu o tinha como um modelo, como alguém que não poderia ser alcançado pelos meus passos desengonçados de jovem bailarino. Cresci o vendo dançar grandes balés de repertório (acho que ele dançou todos) e peças contemporâneas, curiosamente com a mesma destreza, como se nada fosse tão complicado, como pareciam para mim.

Marcelo Hortêncio é um bailarino desses que dão peso a cena, desses que entram e intimidam, entram e se comunicam com a platéia porque em si cabe mais que assombrar pela técnica: cabe dividir com o outro, tamanha a sua generosidade.
Não sei se foi sorte, mas ele acabou caindo em minhas mãos, e eu juro que pensei: e agora o que fazer com tudo isso? Como eu no desprovido da minha experiência vou lidar com esse cara? Ele vai me engolir. Medo, passageiro e fugas.
O monstro me ajudou a construir outros monstros (e matar outros tantos). Com ele eu me senti seguro: na cena, nas viagens, na noite... Bailarino, amigo, confidente...
E agora, hoje 02 de setembro, vamos dividir mais uma vez o palco, ali juntos, dançando o monstro que nos fez homens melhores e maiores, dançando o monstro que nos jogou de Fortaleza para o mundo.
Hoje, quando eu entrar em cena vou dançar para o monstro Marcelo Hortencio, me sentindo com fogo nos pés como um menino que um dia o teve como algo que não poderia ser alcançado. Ainda acho que não posso!
Hoje Marcelo fecha um ciclo conosco, fará a sua última apresentação de De-vir. Que fique claro; a casa estará sempre aberta para você.
Saber entrar e sair é para poucos, meu amigo!
Nós te amamos.



Quando apresentamos uma pequena demonstração do De-vir há exatos 10 anos fomos bombardeados por críticas negativas e chacotas. As pessoas falavam que a famosa bailarina Wilemara Barroscom seus 30 anos que carreira (na época) não poderia encerrar daquela forma. 
Como eu era muito jovem e não tinha nada construído, pensei: bem, eu não tenho nada a perder, então vou seguir fazendo o que quero (mesmo

 com um tanto de receio, claro). E segui irredutível na minha busca de fazer o meu trabalho como ele deveria ser (é importante para um artista saber onde ele quer que o seu trabalho esteja).

Hoje, quando olho para trás e vejo o percurso e a dimensão que o nosso trabalho tomou, sinto um misto de orgulho e felicidade por ter conseguido olhar para o que estava acontecendo naquele momento e ter tido maturidade de não me trair como artista.
A carreira da bailarina Wilemara Barros como vemos hoje, não acabou e está longe de acabar. Wila não é só uma bailarina, é uma artista com olhar de águia; curiosa, enxerga longe, me inspira o destemor dela em se lançar no desconhecido, ela vai transitando entre linguagens.
Comemorar 10 anos de um espetáculo no Ceará é quase um fato heroico; exige disciplina, planejamento e um bocado de sorte.
Comemorar 10 anos depois das vaias, e até do silencio é muito mais prazeroso.
Vida longa ao De-vir!




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