quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Tudo que é vivo tem sua energia



Estou aqui no alpendre da minha casa, é fim de tarde, e um vento gostoso corre entre as árvores dos quintais vizinhos, o céu, antes de um azul escarlate, agora transita do rosa ao vermelho, passando pelo púrpura, é incrível a cor do céu nessa terra, ainda fico boquiaberta.
Em poucos dias estarei terminando o ano da Cia. Dita na cidade de Manaus, serão provavelmente as duas últimas apresentações da companhia em 2010, ano incrível de trabalho e de grandes realizações, mesmo assim, ainda me sinto o tempo todo muito inquieto, achando que eu poderia ter ido mais, e questionando o trabalho sempre, acho que nunca vou me dar por satisfeito.
Fico feliz de ir apresentar um antigo trabalho, uma performance-instalação, algo bem diferente do que tenho feito nos últimos meses. Sei que ela será bem importante para que eu e Wila possamos nos focar no trabalho que começa a ser pensado dentro da Dita.
Essa é a primeira vez que viajo depois que mudei de casa, e confesso que estou um pouco apreensivo com o fato de deixar as minhas plantas nos cuidados de outra pessoa, acho que é como deixar um filho pela primeira vez antes de voltar ao trabalho depois da licença maternidade. Elas ainda estão se adaptando ao novo lar, antes viviam em um lugar alto com muito sol, e agora muitas delas na terra com menos luz, e outras ainda precisam de bastante cuidado, quase psicológico, sou quase um psicólogo de plantas, amo minhas plantas como acredito que Frida amava os seus macacos e seus outros bichos de estimação, não se trata de um hobby, mas sim de um pouco do que eu sou. Raramente converso com elas, não sei fazer isso, o meu amor é muito silencioso, eu apenas as toco com atenção e carinho, e elas entendem quem está por perto.
Gosto dos fins de tardes no meu quintal, tiro a roupa, me conecto com esse espaço, com silêncio, com água que rego, e fujo um pouco do caos lá de fora.
Wila diz que eu preciso de um pouco de mato e de um pouco de concreto pra ser feliz, que eu não viveria muito tempo numa selva de pedra, nem muito tempo em uma serra, ou em uma praia pouco habitada. Ela tem razão!
Eu acredito muito na energia das coisas vivas, e sobretudo na minha energia, todos os dias é preciso cuidar um pouco dela, é muito fácil deixá-la nebulosa nesse mundo em que vivemos.

Tanto eu quanto Wila somos bastante sensíveis a isso, se alguém chega perto com uma coisa que não é boa, a gente sente de imediato, até uma casa em que entramos, se não tem uma boa energia rapidamente captamos. É assim com os desconhecidos, com os amigos, e com os pseudo-amigos também, capto no ar, basta está no mesmo ambiente, algumas vezes consigo sentir a energia de uma pessoa quando ela silencia, ou quando está distante, e ainda quando estar virada de costas na minha direção no meio de um monte de gente.
Isso que falo parece loucura? Acredito que não.
Final de semana de apresentações, e a minha energia já se encontra totalmente voltada pra isso, quando o meu corpo chegar em Manaus o meu espírito já terá chegado antes a procura do lugar que vou habitar por algumas horas.




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