sexta-feira, 15 de abril de 2011

Arquitetura do desejo - 02 (pelos)


É tão estranho escrever "pelos" sem o acento circunflexo. Eu não gosto dessas mudanças da nossa língua, me parecem pobres. Mais estranho mesmo pra mim é perceber o desaparecimento dos pelos nos brasileiros (ah, ainda bem que existe a Europa, e os outros países na Ámerica Latina. Ia esquecendo do Japão também, lá eles não sabem o que é gilete). Um amigo me falou isso depois que viu um dos meus espetáculos, me disse que eu sou bem oriental, ele é casado com um japonês,  rsrsrs.
Enfim, mas que uma questão de gosto, é uma questão cultural, e questões de gosto são formadas nas bordas de uma cultura. Se a gente mora em uma cidade praiana é mais que natural, que a maioria ande igual a criança, negando o que só a fase adulta nos dá. Eu particularmente não acho bonito, e nem sinto tesão por alguém todo depilado.
Costumam me dizer que é falta de higiene, hahaha, então tá, nem vou discutir isso.
O celebre fotográfo japonês Araki Nobuyoshi (um dos grades nomes da fotografia erótica do século XX) disse certa vez que pessoas dominadoras não gostam de se depilar, hahaha, eu quase dei um pulo porque achei que ele tinha me visto pelado em algum lugar, hahaha, é só uma brincadeira gente. Mas acho que ele é uma cara que sabe das coisas, ou pelo menos (sem tracadilhos, please) dessas coisas de pelo aqui e pelo alí. Fui apresentado ao trabalho dele em minhas andanças por sebos e livrarias em Paris (que são incríveis, difíceis de se imaginar aqui no Brasil), o cara passou a vida inteira fotografando "bucetas flamejantes", depois dizem que o depravado sou eu, pobre de mim.
Pelo sim, ou pelo não (sem trocadinhos) eu fico meio abobalhado com um chumaço saindo debaixo do braço, ou por cima do cós da calça, é a mesma coisa de quando vejo um belo par de peitos dentro de um decote, fica difícil de olhar pra cara da pessoa.
Aiai, o mundo é cheio de gente que gosta de tudo no mundo.

Por fim quero dizer que meus pelos são uma forma de resistência, assim como a minha nudez, como a minha forma de lidar com o corpo, todas essas pequenas coisas vão se enlaçando umas nas outras: gosto, estética, tesão, educação, política e cultura.
Mas gente, olha aí o meu texto, pra que isso tudo? É so pra dizer que prefiro com pelos, aff.



2 comentários:

  1. É lenga-lenga, mas eu comprovei uma vez: quando se gosta, gosta de qualquer jeito! Mas em preferências, gosto dos cheiros e não penso muito nos pelos. São "detalhes", assim, propositalmente com aspas mesmo.

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  2. rsrs, bacana esse teu comentário. Não sou tão ligado a cheiros pq tenho um péssimo olfato. Sou muito visual, tudo pra mim passa primeiro por isso. Inclusive sou capaz de gostar de alguem com a voz horrível também, como gosto de fato, só pelo fato dessa pessoa ser atraente aos meus olhos.

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