quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Amor cinza chumbo


O céu amanheceu de cor cinza-chumbo.
O céu chorou de fazer pena nessa manhã.
O céu não se conteve com a minha dor e chorou o que eu não tinha mais pra por pelos olhos.
Nessa manhã sem sentido, e sem nenhuma razão de ser aparente, eu estou aqui frente a minha vida digital, pensando em como falar um pouco de algo que o virtual não toca, falar de amor (do meu amor), sem perder a minha dignidade (mas se eu perder também, não faz mal, faço como a Elis, e choro atrás da porta), sem parecer adolescente em torpedo de paixão febril, ou simples idiota.
Mas falando sério. Como você reagiria ao saber que o seu amor estar prestes a casar? Pensou? Então, talvez você já tenha passado por tal acontecimento, ou talvez ainda vá passar. Eu adianto, não é uma situação das mais agradáveis. Na verdade, é enlouquecedor.
Coincidentemente, isso acontece um mês depois de tal amor ter recebido um enorme texto meu em que falava mais ou menos assim: não me procure, só venha até mim quando você estiver bem resolvido, quando não tiver mais medo de quem você é. E aí a resposta veio mais rápido do que eu pensei. É uma grande coincidência, não é?
Quantos homens ainda irão morrer com medo? Quantos homens que amam outros homens ainda terão suas vidas destruídas pela necessidade de aparentar aos outros o que não são? Quantos homens enlouquecerão outros (seus amores) colocando alianças em dedos de garotas encorajados pelo medo? Quantos amores, quantas histórias assassinadas, quanta felicidade poderia ter sido poupada pelo medo, pelo medo, pelo senhor das vidas da grande maioria das pessoas, o senhor medo.
E aqui, eu olho em volta ao completo desolamento do meu pobre e “escuro coração solar do hemisfério sul”, “na esfera do chão”, e uma densa cortina d’água já não me permite ver mais nada, nem saber se a tal cortina sou eu ou se já é a chuva, que chora. E como chora essa chuva. Não quer parar de chorar.
Ontem ao desabar na cama, em meio à escuridão da noite, do meu ser, perguntei a Wila: meu amor, e o que ele vai fazer com todas as nossas fotos, que ele mesmo revelou em papel brilhante? Irá queimar o álbum de fotografias e todos os nossos mimos dados a ele, em um gesto brusco, em uma tentativa desesperada de não mais nos lembrar? Ou colocará em sua nova casa, para que o seu novo amor possa limpa-los sem ao menos ter idéia de quantos sorrisos e desejos existem por trás de cada um deles?
Nós não sabemos. Ninguém sabe mais nada, e nada mais será digno de saber, enquanto o senhor TEMPO não decidir dar o ar da graça. Nem que seja com uma simples palavra.
Enquanto isso, a chuva de cor cinza-chumbo cai sobre esse homem triste, tão triste, triste demais por ter ousado (assim como Josephine Baker) ter DOIS AMORES.


2 comentários:

  1. Eu gosto tanto de passar aqui, e gosto tanto de você.

    bRu.

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  2. bird,

    Tua escrita é testemunho de sensibilidades ambiguas. sinto vc na escrita, isso é bom, um faller menino homem imbricado no ser artista coreografo bailarino dançarino dançante.
    É autobiográfica na circunstancialidade dessa ato evidencias surgem.
    É a criação nascendo mas que nas entrelinhas e nas entrepalavras está a sutileza, quase como nas soleiras das portas, quase não, nas soleiras das portas, o estar entre, como também as soleiras das janelas, o estar entre.
    Pois para perceber o entre temos de nos colocar entre, esse entre que é uma zona de indistinção incrível.
    Tua escrita transpira vontades e sensações, mantenha a rotina, mas fique atento as evidencias que falei, o que emerge para dar o pulo do gato ou mesmo da gata na sua escrita.
    Cá estou também nas soleiras das portas e janelas que me convidam a estar entre, como artista, como pesquisador, como amante, como promiscuo, como idealista, como pop matuto do interior, like joubert.
    Lapremidi is real and fiction, together.

    abraço fraterno.

    Joubert.

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