domingo, 6 de fevereiro de 2011

Dez anos de "Um Momento Delicado"

Coincidentemente, depois de ontem ter postado sobre os dez anos da minha relação, hoje estou postando um vídeo de um trabalho muito especial para mim. Meu primeiro trabalho coreográfico, que também completa dez anos (e minha primeira parceria com a bailarina Wilemara Barros). Um Momento Delicado, antes de subir aos palcos, foi concebido em versão vídeo-dança, um dos primeiros do gênero em Fortaleza naquela época. O trabalho foi proposto a mim em um dia para ser gravado no outro, fiz um pequeno roteiro, ensaiamos a coreografia dentro do banheiro de um amigo, na madrugada, logo após voltar de uma apresentação, e gravamos entre 5 e 9:30 da manhã. Quando o trabalho em poucos meses estreou, minha carreira deu um salto, muitas portas se abriram, entre elas algumas que foram bem dolorosas (como minha primeira ida ao Rio, a convite do crítico de dança Roberto Pereira, um verdadeiro pesadelo, que só me fez voltar ao Rio cinco anos depois). Em ano de comemoração, o trabalho ainda reverbera, no entando, eu tenho tido muitos problemas em conseguir uma pauta de vergonha em um teatro decente, me parece que ser cearense, significa nunca poder fazer as minhas solicitações aos teatros em que me apresento, eu fiz e paguei caro, estou a mais de um ano sem me apresentar na minha cidade, enquanto isso meu trabalho ganha espaço nacionalmente. Eu me recuso ceder a "boa vontade" dos programadores, curadores dessa cidade, não estou a mecer de quando bem entederem, ouviram? Não cedo nem a pau a essa noção equivocada de curadoria do Ceará. Prefiro não subir no palco, e assim perdemos todos nós. Para finalizar, vou postar aqui um email que recebi da coreógrafa cearense Silvia Moura, e que muito me agrada, a respeito da passagem meteórica do diretor José Celso Martinez, em ocasião do encerramento das comemorações dos 100 anos do nosso maior bem cultural, o Theatro José de Alencar. Em 24/01/2011, às 13:21, Silvia Moura escreveu: Como custa caro ter opinião formada , e crítica sobre as coisas, como custa caro não ser IRACEMA..Não se deslumbrar com os espelhos e as sobras e migalhas oferecidas aos "porcos". Não Obrigada, agradecida... Não aceito as sobras dos escolhidos. Penso que também não irei, não participarei, dou crédito e importância e valorizo o trabalho de qualquer artista, porém não me sinto confortável com os números divulgados. Não compartilho da real necessidade de se gastar tanto num único "evento" em detrimento da própria manutenção do Theatro José de Alencar que carece de verbas para seus projetos e manutenção física , técnica e do corpo de funcionários. Penso que deveríamos ser consultados quando do uso de verbas públicas para ações em nossa área. Temos outras prioridades. Podemos gastar tanto numa ação????? De onde especificamente vem essa verba????? Conseguiríamos nós Artistas locais essa soma para um projeto envolvendo apenas artistas locais??????? Para quem essa ação é fundamental??? O Custo benefício dela cobre esses valores????? A importância e valorização do trabalho/obra de um Artista e de sua contribuição para a cena local ocupa uma valoração na nossa constituição Artística/formação significativa mesmo que isso nos custe valores tão distintos da nossa realidade??????? Como mudar essa realidade?????? Me sinto mal em sequer sentir conforto para participar de uma ação /evento público num espaço que sinto como minha casa. Me sinto mal em não querer ir usufruir de um bem cultural , adquirido com "NOSSO" dinheiro.Porém, também não encontro conforto nas filas , onde todos buscam um canto e usufruem do seu quinhão de participar do evento tranquilamente,gostaria de me sentir assim.Mas, não consigo. Os rostos conhecidos , que vejo nos "grandes eventos" , que lotam as filas dos espaços para ver os "Mitos" , os grandes artistas que visitam nossa cena em eventos conceituados e que quase nunca vejo em espetáculos locais ou de menos porte, me perseguem nas noites de insanidade onde busco soluções para avançarmos nas nossas infinitas questões. Se puderem aceitem meu desabafo e desencanto e relevem a tristeza, é que as coisas me pegam , me tomam muito fortemente. Não sou dada a meio – vou ou não.Acredito ou não. Não há em mim intenção de julgar confortos, exponho aqui inquietações minhas de artista, de cidadã do Ceará. Lugar que vivo e escolhi para realizar meu trabalho em detrimento de todos os desacordos . Não me mudarei, não desistirei de continuar buscando uma forma de ser e de me orgulhar do que fazemos aqui, do que construímos juntos e separados. Mas, confesso : me sinto mal. Não há conforto para mim nessa cena. E isso só me entristece. Quando mudaremos nossa realidade???? Mudaremos????? realidade??? de???? Silvia Moura

Um comentário:

  1. Bird,

    Gosto desse processo, algo que foi concebido como videodança e depois foi pro palco e hoje cria permanencias relacionadas ao que vem a ser memória da/de dança. O videodança que postou é indicio de algo que sobrevive, não apenas pelo video, mas pela pertinencia desse primeiro trabalho autoral no percurso da cia dita e em especial no teu percurso, na parceria com Wila. Isso só pra contradizer o ultrapassado conceito de dança como arte efêmera. Pense nisso e, se lhe apetecer, rescreva o texto para o seu arquivo pessoal.

    beijo

    Joubert.
    Keep dancing...

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