sexta-feira, 16 de julho de 2010

Cada vez mais NU (sobre a recorência da nudez na minha vida e no meu trabalho)

Já faz mais ou menos um ano, que ao sair de uma aula fui questionado por uma colega com a seguinte pergunta: Fauller, tu não tem vergonha de por aquelas fotos tão explicítas no teu blog? E eu de imediato respondi com outras duas perguntas: E por que eu deveria ter? Elas não são bonitas? Ela retrucou dizendo: são, não é isso, é que eu acho que é muita exposição, todo mundo pode ver, copiar,etc. E eu finalizei a conversa apenas dizendo: Eu sei exatamente o que eu quero com o meu blog, sei do meu lugar no mundo como pessoa e como artista, não estou preocupado com esses por-menores. Dissemos até logo, e seguimos embora.
Mas isso ficou forte no meu pensamento, fui embora pensando, poxa, que pergunta, bem típica de quem vivi em uma província, pensei. Se uma pergunta dessas vem uma artista, imagina o que as pessoas ditas "comuns" pensam. Pensei que aqui na minha cidade (Fortaleza)quase sempre as pessoas teem poucas referências literárias, veem poucas exposições, leram poucos livros, biografias, e o mais grave, pouca experiência de vida, não conhecem o mundo (isso não é culpa de ninguém, nem deve ser visto como um problema), então, embora eu tenha amigos que são realmente cultos, é difícil as vezes dialogar.
As vezes quero falar de um pintor com um bailarino, mas ele não sabe quem é, ou de um tipo de luz com um iluminador, mas ele nunca viu. Me sinto meio sozinho, procurando alguém com quem possa ter uma conversa com um nível mais elevado, sobre cultura, arte, filosofia, politica, e não sobre quem está se graduando em  odontologia, ou comprando um carro 4 por 4.
Lá fora essa questão é muito bem resolvida, você faz da sua vida o que bem quer, e pronto! Simples assim!É uma noção de individualidade muito bacana, sempre respeitada, só me incomoda quanto extrapola e passa a ser individualismo, coisa bem diferente.
Pois bem, gosto de pensar que antes de tudo a minha nudez é política, mesmo quando ela soa como putaria, ou mero exibicionismo, eu não me importo, é uma forma de dizer que o corpo pode e deve ser visto de outra forma, mais tranquila!Sem conotação negativa, o corpo é um reservatório de tantas informações, de tantas estórias e experiencias, porque negar tudo, e por completo? Sendo assim, também reinvidico o direito a putaria, quem não gosta que atire a primeira pedra, rsrsr.
Em quase todos os meus trabalhos a nudez se faz presente, pois é atraves dela que organizo de forma mais honesta as minhas idéias, as minhas escolhas estéticas, filosóficas, poéticas e politicas. 
Gosto de ter em cena só o essencial, então parto de uma total nudez, seja ela de ego, de roupa, de disposição, ou de alma, e aos poucos, na medida do necessário vou acrescentado o que tem de ser acrescentado.
Muitos partem do excesso, até limpar tudo. Eu sempre que possivel, parto da ausência e vou colocando aos poucos. Então no final só vai restar o que realmente importar: música, roupa, estrutura coreográfica, cenários...gosto de me colocar, ou colocar o intreprete frente a frente ao público, sem grandes recursos cênicos, porque isso deixa pouca brecha para as fugas...e eu gosto quando ambas as partes (interpretes e público) se percebem sem espaço pra fugir. É aí que a totalidade da cena pode ser vivida de fato como uma experiência única, forte e reflexiva. Somente quando abandonamos os adereços é que abrimos mão do ego!
Penso que tudo que levo ao palco tem a ver com o que sou na vida, todos nós na verdade, se você não é bem resolvido na vida, como vai ser resolvido no palco? Então tento me resolver, me entender primeiro dentro de casa (segundo um texto lido outro dia temos 5 capas: a pele, as roupas, a casa, a cidade, e o planeta. A forma como lidamos com cada uma dessas "capas" separadamente e logo em seguida juntas, é que diz o que somos, e como somos). Eu não estava errado, tudo é extensão de uma outra coisa, uma vai puxando a outra. É foda, não é? Não é um troço fácil não... Mas tudo isso é para situar um pouco quem venha ler os meus textos, ou quem possa abrir o blog e ver as fotos. 
Minha nudez não é algo postiça, talvez esse seja o fato dos meus trabalhos estarem aí a tanto tempo, e ainda serem encarados com respeito e atenção. Eu vivo isso em casa com a minha mulher, abrimos a porta, e sem pensar, a primeira coisa  que fazemos é tirar as roupas, e quase sempre isso não é nada sexual, ou sensual. Acho de fato o corpo humano muito bonito e eloquente; suas curvas, pelos selvagens, orifícios, suor, saliva, pulsação, veias saltadas, musculos e gordura,  tudo tão íncrível! Simplesmente não consigo lidar com o corpo como se ele fosse feio, ou algo que precisa viver num mundo clandestino. Traremos então nossos corpos pra a luz? Vejam que convite mais tentador, pois uma vez saidos da escuridão, dificilmente retornaremos a ela. Não faço diferença entre os meus, os nossos "buracos", pra mim cu é igual a ouvido, todo mundo tem. A diferença é apenas funcional, e também porque nos foi imposta por questões culturais, sociais, e pasmem, por questões de opressão religiosa, que saco essa igreja! Falo da igreja, não da fé, que fique bem claro.
Eu tenho trabalhado ao longo dos úlitmos dez anos pensando até onde posso ir, ponderando, e quanto mais vou, mais descubro que posso ir, mais e mais, e assim vou descobrindo a minha forma de falar o que quero (saber o que se quer falar, ou calar é questão de sobrevivência, muito importante mesmo).
E eu quero falar não exatamente de mim, mas da minha experiência única-individual com uma vida que não tem pudores de defender o personagem real que escolheu ser. 

Demonstração Técnica do espetáculo "De-vir", no Encontro Internacional de Artes Cênicas-Zona de Transição (abrindo as comemorações de 100 anos do Theatro José de Alencar, em 2009, Fortaleza-Ceará).Fotos Alex Hermes

Nenhum comentário:

Postar um comentário