domingo, 21 de fevereiro de 2010

Toda estética é política

Estava eu outro(s) dia(s) tendo uma série de conversas, na verdade desenvolvendo um diálogo muito prazeroso e perturbador com uma amiga sobre estética.

Tudo começou por conta de uma série de fotos de homens não depilados no peito e nas axilas, coloquei as fotos em outro site, e o nome do álbum era "Toda estética é política".

A tal amiga, escreveu alguns comentários como: "eu prefiro uma pele lisinha”, ou "nossa, isso me da uma sensação ruim". Ao trocarmos mensagens sobre as imagens, percebi que tal conversa alimentava uma reflexão muito abrangente sobre a tal estética e inúmeras coisas que estão diretamente ou indiretamente ligadas a ela, como ética, senso estética, as cidades e as nossas relações com estas cidades e com as pessoas que nos cercam, e que nelas habitam.

Penso que está tudo ligado,nada se desconecta, e uma coisa vai puxando a outra como uma rede de informações que vai formando o que cada um é, dia pós dia.

Quando eu coloco uma série de fotos de homens peludos, ou não depilados, eu estou mesmo sem falar, ou legendar nada, afirmando uma das minhas escolhas estéticas, a que acha mais bonito homens com pêlos.

Agora, eu não iria escrever um texto sobre isso apenas por um gosto pessoal, e sim porque isso pode me servir de gancho para falar sobre as nossas escolhas, e elas, arrisco falar, sempre têm haver com o meio em que estamos inseridos. É como aquela outra estória: você é o que você pensa, e você pensa o que ler. Dessa mesma forma, vale arriscar que uma pessoa que nunca saiu do seu bairro vai se relacionar com a cidade, consigo, com os outros e com a vida a partir da experiência em seu bairro, claro, e assim por diante, a formação dos gostos, das escolhas estéticas vão se refinando e amadurecendo a medida dos deslocamentos geográficos, também.

Porque é claro que existem pessoas que nunca saíram de suas cidades e são extremamente refinadas, antenadas, e outras que já tiveram inclusive todas as chances de sair, e continuam com um pensamento pequeno, típico das províncias.

O que determina você usar uma pochete ou não, depilar o peito, o cu e as axilas ou não mesmo, usar piercing no umbigo ou não é o meio em que cada um está inserido, e a capacidade que cada um tem de se relacionar com esse meio.

Tudo determina um pensamento estético, inclusive o caráter. Toda política também é estética.



Um comentário:

  1. Todo gesto é político, amigo. Estética é resultante; por isso também, política. Costumo dizer que as pessoas tem a ver com a paisagem. Assim como a paisagem é reflexo das pessoas, daquilo que elas sentem e da maneira como vêem o mundo e projetam sobre ele tais impressões e sentimentos. Uma visão estética e ecoLOGICA que explica por que há tanta beleza produzida pelo homem (fora as belezas naturais) e há também tantos aspectos medonhos na paisagem, cuja interferência humana foi decisiva. Reflexo e refletor.

    Com relação a estética corporal, o que não pode haver (e há) são padrões. As diferenças, se sabe, são importantes fatores que contribuem para o auto-reconhecimento e aceitação. Necessário respeito as características individuais: óbvio ululante.

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