sexta-feira, 27 de novembro de 2009

Sobre De-vir

Qual é a sua relação com o seu corpo?
Qual é a sua relação com o corpo do outro?
Como você se relaciona com a sua cidade?
Que perspectivas de trabalho você estar criando para si?

Acrescentando  uma pergunta:
Que relações você estar desenvolvendo para o seu trabalho e para sua vida?

Eu coloquei estas questões para os meus alunos em  uma aula de composição coreográfica outro dia.
Por que?
Porque são questões que mobilizam a mim e ao meu trabalho hoje, seja ele qual for.
Quando criei o espetáculo "De-vir", eu tinha 23 anos, e todas as questões que me cercavam estavam meio que circulando em torno das minhas referências litérarias, sobre tudo o livro "Monstros" do pensador português José Gil, e da coletânea "Que corpo é esse?", com o passar dos anos, penso que muito dessas referências se diluíram, graças a Deus, pois agora com a maturidade do elenco (somos quatro, e três de nós estamos desde o começo), lidamos cada vez mais com estas questões, que dizem respeito as nossas trajetórias individuais.
Outro dia, enquanto via um dos meus bailarinos fazer uma variação em uma demonstração para estudantes de dança, pensava comigo mesmo no poder desse trabalho, que nasceu em meio a vaias e críticas negativas, e que hoje tem um percurso tão bem trilhado e sólido, que daqui a alguns anos, penso eu, vai existir sem precisar de nenhum de nós, nem de mim, que o criei.
Fiquei pensando no poder do trabalho e da disciplina, este trabalho tinha tudo pra não dar certo, quando falaram que a bailarina Wilemara Barros não precisava por em risco a sua brilhante carreira quase 30 anos, naquela época.
Vivo diariamente o "De-vir", e hoje penso que o trabalho tomou uma dimensão tão bacana, que só o espetáculo já não dar mais conta, o espetáculo vai se modificando lentamente, conforme vamos mudando nossas relações com nossos corpos e nossa percepção de mundo, tanto que temos apresentado ultimamente o trabalho sempre acompanhado de uma "desmontagem" ou "demonstração técnica", como preferirem, ainda não encontrei um nome pra isso. Mas com isso temos a oportunidade de uma troca maior com o público, sem mascara, sem truques, sem dar também chance de fuga, nos colocamos diante do público, e então o público se coloca diante de si mesmo, ou morre, rsrsrsrsrssr.
De-vir teve sua estréia em dezembro de 2002, como meu exercício de conclusão do Curso de Composição Coreográfica do Colégio de Dança de Ceará , na cidade de Fortaleza, de lá pra cá, fez inumeras temporadas em Fortaleza, passou por inumeras cidades no Brasil, passou pela Europa causando grande impacto por sua estética "austera  e delicada", segundo eles próprios. Está presente em livro, filme, revista e os cambau...e acredito eu, que sem prazo de validade, como a maioria dos trabalhos que criamos.

continua depois...

3 comentários:

  1. Acho interessante textos que falem de processos, mas eu gostaria de ver textos ainda mais pessoais...

    ResponderExcluir
  2. è isso é bem legal, eu estou tentando isso, mas ainda não cheguei no ponto que quero. Muito boa mesmo essa observação.

    ResponderExcluir
  3. Bird,

    Ler seus escritos sobre De-vir me fez relembrar muita coisa. Principalmente como eu me transformei aos longo desses anos. Vale lembrar que De-Vir foi, se a memória não falhar agora, meu primeiro texto crítico no jornal, em 2003, iniciando um percurso tbm rico de oportunidades e realizações. E recentemente, estivemos mais próximos, de um jeito que já acontecia, mas precisávamos nos embrincar, perceber a lógica do outro na gente para que, de fato, haja uma relação. E, acredite, De-Vir não tem um segredo, simplesmente vc não o deixou morrer, pois sim, idéias, assim como as pessoas, também morrem, quando não se cria condiçôes de continuidade. E vc criou, teve sensibilidade pra discenir no que era possível ou não, circunstancialmente. É o exercício díario de trabalhar com aquilo que TEMOS e, assim, construir o que AINDA não temos. Isso, fala-se muito de contexto, eu mesmo falo muito, mas nós também somos produtores de contexto...Hummm, tem algo de potente nesse meu comentário que ainda não percebi. Percebamos...

    bj

    ResponderExcluir