Antes de ontem foi domingo, e eu não fiquei em casa, fui para a sala de aula, trabalhar faz bem a alma, e certamente dignifica o homem. Uma mestra do passado já dizia: meu querido, quando tudo estiver dando errado, entre na sala dia após dia, e apenas dance, dance até quebrar todas as suas resistências da alma.
Ela estava certa. Iniciei na prática o que já vinha tocando há tempos na teoria, eu só queria uma desculpa.
Hoje voltei a sala para ensaiar L’après Midi D’un Fauller. Não foi nada fácil, putz, como é difícil ensaiar esse trabalho. Como é difícil revisitar as sensações, e as motivações que me fizeram querer o compor. Eu não sei se ainda quero ficar muito tempo o apresentando, depois que cumprir com todas as minhas apresentações que já estão agendadas. Torço para que não seja um tormento.
Tudo foi difícil, subir novamente naquele salto alto de 18 centímetros, e puxar suas rédeas. Subir no monociclo foi ainda mais doloroso, parece que ele trás uma carga de lembranças, e de sensações que me colocam como alguém solitário, nas bordas do abandono (em um determinado momento, enquanto estava sentado ainda nele, parei na janela, olhei o horizonte possível de se ver, e fui de veras tocado por aquela música, não me contive). Desci, e em um desespero contido de sala de aula, me sentei e escrevi compulsivamente. Que bom, que bom mesmo, isso me trouxe de volta tanta lucidez, várias questões que me incomodavam no trabalho acabaram se resolvendo ali mesmo, trouxe para casa outras a serem resolvidas sem mais temor, e junto a elas trouxe uma certa alegria em me sentir vivo com esse processo de trabalho.
Agora outra questão, que vem tomando o meu pensamento há muitos dias. Eu fico realmente muito impressionado com a quantidade de pessoas que visitam esse espaço, talvez por eu ter um dia achado ingenuamente que ele era só meu e das pessoas que eu escolhesse, que bobo isso. Mas de fato o que me impressiona é que quase todo mundo cala. Eu não sei, se isso denuncia uma carência minha em dialogar com as pessoas, ou se de fato calam por ser mais cômodo diante dos meus posts (entendo que deva ser muito mais cômodo e "fascinante" postar frases "meigas" no facebook, e ter 40 comentários, e várias "curtições", entendo que o ego precisa ser amaciado dia após dia).
Eu tenho consciência do tamanho da minha exposição, estava conversando sobre isso semana passada com um bailarino que trabalha comigo, e não é porque eu estou pelado mostrando o pau, mostrando o cu, não, nada disso, até porque cu pra mim é igual a boca, é igual a qualquer outro buraco que tenho no corpo, cu é uma bobagem gente, e também é uma delícia, não? Adoro cu, gosto de cu de mulher, embora prefira cu de homem, os pelos em volta, o piscar cheio de opinião, sabe? E o cheirinho? Muito bom cheiro de cu, lembro de uma vez em que o amigo coreógrafo Marcelo Evelim me disse que não gostava de um espetáculo que acabavamos de assistir, porque segundo ele "estava todo correto, mas faltava aquele cheirinho de cu, que uma coisa tem quando é boa". Olha eu aqui, já quase filosofando sobre o fascínio que o cu exerce sobre nós (o cu tem as suas finalidades nobres também, não sejam hipocritas, que eu sei que vocês adoram, kkkkk).
Mas para mim, exposição mesmo, é quando falo das minhas fragilidades, dos meus medos, dos meus anseios, aí sim, me sinto me desnudando. De qualquer forma sei que um dia posso pagar caro, por me expor sem pudor ou culpa, também já conversei sobre isso com outra amiga, e ela me disse que é verdade, que posso pagar por isso tendo o meu nome jogado na lama, mas que sabe também que se isso acontecer, sabe que eu tenho culhões para agüentar o tranco.
E no fim das contas, tudo isso me coloca pra pensar em como as pessoas da minha cidade são caretas, e os artistas não fogem a essa regra, aff, cidade careeeeeeeta. Pior, sem querer generalizar, é que alguns artistas se acham os tais, contemporâneos, modernos, só porque colocam algumas citações no facebook, chatos.
Nossa, mas eu estava indo tão bem, estava tão doce, de repente fiquei assim, amargo. É, é isso mesmo.
É melhor eu me deter aos meus processos, que ficar aqui analisando ética, e posicionamento artístico alheio.